terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Viva a Colômbia!


 
 
Viva a Colômbia!



 

Relato de Viagem

Novembro de 2012

Introdução

Ao planejar meu roteiro para Cuba percebi que dependendo da companhia aérea que escolhesse poderia fazer conexões no Perú, no Panamá ou na Colômbia. E já que poderia parar em um desses locais porque não incluí-lo no roteiro? Seria um plus na viagem...!

Visitei o Perú em 2011 e achei que a Colômbia seria mais interessante do que o Panamá. Comecei a pesquisar sobre o país e decidi que conheceria a capital Bogotá, a cidade de Medellin, por todas as recomendações que tive no passado (principalmente de colombianos que conheci na Austrália), e se desse tempo, iria até a histórica Cartagena.

Quase tudo ocorreu conforme o planejado. O único problema era o pouco tempo que tinha para conhecer um país com tantas atrações. Meu plano inicial era chegar no dia 07 de novembro e voltar para o Brasil no dia 12 de novembro pra passar minha última semana de férias em casa.


Planejamento do Roteiro.

Realizei meu planejamento estudando as distâncias e o tempo que tinha disponível. Porém, tive que prorrogar a minha estada. Segue o planejado.  

Dados dos vôos:
 AV  255 P  07NOV HAVBOG HK1  1815   2030  O*       E WE  2 
         OPERATED BY AVIANCA                                    
 AV   85 P  07NOV BOGGRU HK1  2140  #0635  O*       E WE  2 
         OPERATED BY AVIANCA  
 
Day by Day

07 nov (qua)- Saída de Havana / chegada a Bogotá

08 nov (qui)- Saída de Bogotá (terrestre) - 443km (8 horas de viagem)

08 nov (qui)- Chegada a Medellin

10 nov (dom)- Saída Medellin (terrestre) / Chegada a Cartagena - 642 km (13 horas de viagem)

12 nov (ter) - Saída de Cartagena (aéreo)

12 nov (ter) - Chegada a Bogotá

12 nov (ter) – Saída de Bogotá

12 nov (ter) – Chegada em São Paulo



Dia 1 – Havana/Bogotá, dia 07 de novembro (quarta-feira) de 2012.

Saí de Cuba à tarde e cheguei na Colômbia no começo da noite em um vôo da Avianca. Não tinha planos concretos. Tanto é que nem sabia onde me hospedaria naquela noite. Não tive tempo nem condições de pesquisar em Cuba como seriam meus primeiros passos em Bogotá. Quando passei pela imigração do aeroporto, fui questionado sobre o que faria no país e onde ficaria hospedado. E quando respondi, com toda a naturalidade, que não sabia para qual hotel iria, a atendente pediu-me para aguardar e foi procurar alguém para falar sobre o meu caso.

Ela voltou com um rapaz que me fez a mesma pergunta. Preocupado com a situação resolvi dar uma resposta mais elaborada. Expliquei que estava em Cuba e que lá não tinha acesso à internet e, por isso, não tinha nomes de hotéis. Inclusive pedi a ele uma indicação. Logo imaginei que o país fosse mais atento às fiscalizações para combater, principalmente, o tráfico de drogas, motivo pelo qual o país foi internacionalmente afamado. No caminho o agente, me sugeriu um nome de hotel para dar como resposta  quando me questionassem novamente.

Cheguei a uma salinha e vi um homem mal encarado sentado e aguardando. Lembrei-me da viagem aos Estados Unidos, antes do meu primeiro embarque para trabalhar em navios, quando em Miami também fui parado pela imigração e tomei um “chá de cadeira”. 

Mas dessa vez foi rápido. Dei a resposta que eles queriam, ou melhor, que precisavam ouvir, para me liberarem.

O aeroporto estava lotado e aquele era o momento no qual eu realmente necessitava de informação. No balcão de informações turísticas me indicaram a Zona Rosa não porque me acharam afeminado, mas porque esse é o nome que se dá a área turística na Colômbia. Também por indicação resolvi ir para um determinado hotel no centro, que supostamente teria uma diária econômica e fiz minha primeira troca de moedas. De Euros para Pesos Colombianos.

Soube que havia um ônibus gratuito que me levaria a um local mais próximo do destino de onde eu pegaria um táxi. Rapidamente embarquei no carro com destino ao centro da cidade para hospedar-me.

Observava a diferença de desenvolvimento da capital colombiana comparada à cubana enquanto fazia algumas perguntas ao taxista. Logo chegamos ao centro e mesmo não encontrando o hotel, pedi para que o motorista me deixasse em um cruzamento.

Como estava cheio de pertences e dinheiro tinha a preocupação de encontrar o local o mais rápido possível. Busquei informar-me com comerciantes locais se conheciam o hotel, porém não obtive respostas positiva. Assim, achei melhor buscar outro local. Caminhei um pouco, mas senti-me extremamente inseguro. Eu era visivelmente um turista, cheio de pertences de valor, sozinho, à noite em um centro urbano onde é comum transitarem pessoas mal intencionadas.

Avistei um hotel e entrei rapidamente. Perguntei sobre o valor da diária e achei caro. Pedi auxílio para o recepcionista que me ajudou sem restrições, inclusive emprestando o telefone para eu ligar para alguns albergues à procura de disponibilidades. Achei um no bairro Candelária.

Consegui encontrar um albergue e agradeci muito o auxílio do recepcionista. Saí até a porta do hotel e acenei para um taxista. Peguei minhas coisas e novamente entrei em um táxi. Começou a chover quando chegamos ao hostel.

Fiz minha ficha de entrada e não gostei da maneira com que fui atendido. Deixei minhas coisas no quarto percebendo que havia mais uma pessoa. Mais uma vez senti-me inseguro, mas mesmo com sono resolvi sair para comer algo. Andei umas duas quadras embaixo da garoa achando o local muito pacato quando encontrei uma lanchonete onde comi uma pizza com um refrigerante.

Com a barriga cheia voltei para o hostel. Queria que o dia terminasse logo para eu começar a planejar quais seriam meus passos na Colômbia. Sem dúvida, minha prioridade naquele momento seria encontrar algum local seguro para deixar meus pertences e poder passear durante o dia com tranquilidade. Como já tive uma má experiência em uma das minhas viagens de “mochileiro”, em Buenos Aires na qual quase dois mil dólares simplesmente desapareceram, tomaria as medidas necessárias para não passar por aquilo novamente.

Usei a internet do hostel para pesquisar um pouco sobre o que fazer em Bogotá e reparei que o lugar tinha pouco movimento. Não estava me sentindo bem ali.

Fazia um pouco de frio e como eu não queria incomodar o companheiro de quarto fazendo barulho dormi da mesma maneira como  estava vestido. Deixei minha mochila com coisas de valor encostados ao meu corpo.



Dia 2 – Bogotá, dia 08 de novembro de 2012 (quinta-feira).

Acordei algumas vezes durante a noite e, definitivamente, quando a luz do sol entrou pelo quarto. Comecei a mexer em minhas coisas quando o rapaz do beliche ao lado acordou.

- Hello! Ele disse.

Sua cara mostrava que ele não era latino e logo me disse que era australiano de Brisbane, cidade onde morei entre 2002 e 2003. Como se não bastasse a coincidência ele tinha chegado no dia anterior de Cuba. Contou-me também que era músico e tocava em uma banda de salsa no seu país.

Percebi que ele era uma pessoa boa e que seria uma boa companhia para começar a explorar a região.

Contei a ele que não estava me sentindo bem naquele hostel e ele disse que também não gostou do tratamento. Perguntei a ele se queria procurar um outro local e expliquei que estava transportando algumas coisas de valor que não queria deixar em um quarto que ficava aberto. Ele disse que tinha conhecido outro albergue e concordou em me levar até lá.

Peguei minha mochila, deixei a mala no quarto e logo fomos até o outro hostel. Fomos muito bem atendidos por Maria, uma moça simpática e atenciosa. Negociamos o valor da diária do último quarto disponível e dissemos que voltaríamos em 15 minutos. Disse a Justin, o australiano, que eu pagaria para ele a diferença de preço que ele teria que pagar para trocar de local, já que o novo seria pouca coisa mais cara. Para mim seria um bom negócio e a garantia da tranquilidade.

Pegamos as nossos pertences e logo estávamos bem instalados. Justin lembrou que esqueceu seu três, instrumento derivado do violão, muito utilizado em músicas cubanas. Tinha comprado o instrumento em Cuba e voltou até o hostel para buscá-lo.

No entanto, Justin voltou perplexo dizendo que estranhamente ninguém atendeu aos chamados de campainha. Começamos a imaginar o motivo. Lembramos que havia um sistema de monitoramento por vídeo onde o recepcionista do hostel conseguia ver perfeitamente quem tocava a campainha.

Resolvemos tomar o café da manhã incluído na diária e logo conhecemos outros turistas. John era um sul coreano que vivia em Las Vegas. Também conhecemos dois rapazes mais novos da Nova Caledônia que contavam de maneira engraçada as aventuras da noite passada quando tomaram um porre e gastaram muito dinheiro. Demos muitas risadas!

John perguntou o que faríamos durante o dia e resolvemos passear juntos. Logo nos surgiu uma ideia. Contamos à John o “enigma do tres” e perguntamos a ele se poderia nos ajudar.

O plano era o seguinte: John tocaria a campainha do antigo hostel e entraria fingindo que queria se alojar ali. Ficaríamos do outro lado da rua escondidos e quando ele saísse, entraríamos para resgatar o estimado instrumento musical.

Por mais ingênuo que possa parecer senti-me em uma missão internacional. O coreano tocou a campainha e depois de alguns segundos entrou no recinto, começando sua simulação. Ficamos apreensivos pela demora, porém quando abriu a porta ele se despediu dizendo que voltaria, entramos rapidamente e pegamos o atendente de surpresa. Justin pediu seu instrumento que estava num armário fechado e recepcionista com cara de bom moço lhe entregou. Intimei-o perguntando se ele se achava esperto por tentar ficar com o instrumento e encarei-o olhando nos seus olhos. Quando estava saindo fingi que fecharia a porta, porém voltei a abrir. Ele esboçava um sorriso sem graça ao lado da faxineira do local.

Perguntei se tinha alguns problemas e ele disse que não. Saímos com o instrumento, aliviados pelo resgate, mas indignados com a malandragem do rapaz que tudo indicava queria ficar com o instrumento para si. Era o mesmo atendente que eu não tinha gostado ao chegar na noite anterior.

Pensamos em relatar o ocorrido para a polícia de modo que essa malandragem não ocorresse com outros turistas no futuro, porém ficamos receosos que ele pudesse alegar algo contra nós. Podia dizer, por exemplo, que saímos sem pagar a diária pois não tínhamos nenhum comprovante.

Voltamos ao hostel eufóricos por termos cumprido a missão do resgate do tres. Resolvemos sair para andar pelo centro de Bogotá. A cidade está localizada em uma altura superior de 2500 metros do nível do mar.

Quando chegávamos à Praça Bolívar, um grupo de estudantes parou John pedindo para que ele tirasse fotos. Acharam que ele era parecido com o cantor sul coreano que cantava o hit Oppa Gangnam Style, uma febre mundial. Foi muito engraçado vê-lo, disputado pelas crianças e imitar a famosa dança do cantor.

Eu era o tradutor do grupo, pois nenhum deles falava mais do que meia dúzia de palavras em espanhol.

Continuamos a caminhada pela praça e vimos uma manifestação de trabalhadores que buscavam melhores condições. Lembrei-me que em Cuba eu não havia visto nenhuma manifestação. Era a constatação que o capitalismo selvagem gera desigualdades sociais.

Justin pediu que o acompanhássemos para encontrar um curso de espanhol. Um dos seus objetivos para o longo período em que ficaria na Colômbia era o de aprender o idioma. Ele percebeu que seria difícil aprender o idioma sem uma boa base gramatical. Contou-me que se relacionou com uma cubana e mal conseguiam conversar.

Pegamos as informações de uma escola que tinha unidades de ensino em várias cidades colombianas e voltamos a caminhar, agora com sentido ao bondinho de Monserrat. No caminho entramos em uma igreja na qual ocorria uma missa. Como estava tirando fotos sem flash achei que não incomodaria as pessoas. Mas tomei um susto quando o padre me chamou a atenção. Pedi desculpas e envergonhado resolvi sair da igreja.

Passamos por uma loja de artigos esportivos e me chamou a atenção a camisa de manga longa da seleção colombiana de futebol. Resolvi prová-la e como ficou bem. Por isso levei aquela bela lembrança.

Ao chegarmos ao pé do Monserrat resolvemos subir de bondinho e descer a pé. O céu estava encoberto e temíamos que começasse a chover. Em pouco tempo estávamos no topo do morro onde tínhamos uma linda vista da capital colombiana. Fazia frio e depois de visitarmos a igreja e contemplar o silêncio e a paz das alturas resolvemos descer o morro.

Conversávamos sobre diversos assuntos e era perceptível a nossa harmonia. John contava sobre sua vida em Las Vegas. Ele é gerente de um complexo de entretenimento em um dos hotéis-cassino existentes por lá. Dizia que naquele ano tinha ganhado um prêmio que elegia o funcionário destaque no trade turístico local. Filho de imigrantes, ele trabalhou muito para chegar naquele cargo de destaque, vencendo as dificuldades financeiras para conseguir morar em uma grande casa no estado californiano.

Avistamos um belo estádio de futebol que ia ficando mais próximo à medida que caminhávamos lentamente em direção à cidade. Paramos um pouco em um pequeno negócio que vendia bebidas tradicionais. Justin resolveu comprar uma que era de milho fermentado e com graduação alcóolica. Resolvemos guardá-la para tomar à noite.

Como estávamos com fome, paramos em um restaurante ao lado de uma universidade frequentada por inúmeros estudantes. Pedimos um prato à base de frango e uma cerveja Águila local. Voltamos para o albergue cansados e resolvemos dar uma cochilada para podermos sair à noite.

Assim que acordamos, começamos nosso esquenta bebendo o rum que eu havia trazido de Cuba. Jogávamos ping pong e observávamos o movimento do hostel. Resolvi acender um charuto Cohiba e quando pedi o isqueiro para um rapaz americano descobri que este estava encurtando sua passagem pela Colômbia por ter perdido uma sacola com carteira e documentos.

Chegou à recepção do hostel um pedido de pizza errado e nos perguntaram se gostaríamos de ficar com ela. Como estávamos com fome a pizza caiu sob medida.

De repente, a atendente do albergue perguntou-me se eu queria fazer uma locução para um programa. Resolvi aceitar, e por isso, fomos apresentados a dois colombianos que buscavam um estrangeiro para falar em espanhol com sotaque.

Ao fazermos os primeiros testes percebemos que Justin seria a pessoa mais indicada para caracterizar o personagem gringo, perdido na Colômbia. Disse a eles que eu seria o empresário de Justin, e assim, fomos para o estúdio que ficava a duas quadras dali.

John apareceu e também quis ir conosco. Sentíamo-nos como uma equipe que estava vivenciando fortes emoções. Depois daquela missão policial, agora faríamos uma aparição artística.

Os simpáticos rapazes estavam felizes por nos conhecerem e até abriram uma exceção permitindo-nos beber nosso rum dentro do estúdio. Eu dizia a todos, com um tom de empresário bem sucedido.

- Justin is my boy! Do it, bro!

E dava-lhe conselhos, além de auxiliar a tradução do texto que ainda estava sendo produzido entre o espanhol e o inglês. 

Justin se posicionou no local do microfone e aos poucos ia fazendo a locução repetindo as frases para que saísse, mas próximo possível ao que os contratantes queriam. O nome do programa era “Vida Pública – Tweet Show” e o resultado está neste link.


O trabalho foi realizado com sucesso é deram a Justin um dinheiro que seria útil para tomarmos uns drinques. Pedimos algumas dicas sobre onde poderíamos ir e resolvemos anotar os nomes de umas três casas noturnas que tocavam diferentes tipos de músicas. Enquanto eu e Justin queríamos dançar salsa, John queria ir a uma casa de música eletrônica. Voltamos para o albergue de onde pegamos um cartão de entrada gratuita com direito a um drink em uma balada da zona rosa. Logo estávamos de volta à rua para chamar um táxi.

https://www.youtube.com/watch?v=303iq7v0td0&feature=youtu.be

Entramos na casa noturna e nos divertimos muito. Justin mostrou que estava familiarizado com a salsa mesmo não sendo um exímio dançarino. Eu também arrisquei meus passos e conhecemos alguns estudantes de diversos países. Quando começamos a notar que havia menos pessoas resolvemos sair daquela balada e conhecer outras.

Mas achamos que não havia tantas opções para uma quinta-feira e voltamos para o hostel. Fomos até um bar perto do hostel para comer umas empanadas. Convidei os rapazes para irmos a Medellin no dia seguinte e eles gostaram da ideia.

 Voltamos ao hostel para dormir. No dia seguinte, de manhã cedo, Joe, amigo de John chegaria dos Estados Unidos para se juntar a nós.



Dia 3 – Bogotá/Medellín, dia 09 de novembro de 2012 (sexta-feira).



Já estava na hora de sair de Bogotá em busca de novas aventuras. Conhecemos Joe e logo buscamos as informações de como chegar à rodoviária para embarcarmos em ônibus e percorrer cerca de 500 km rumo a Medellin.

No nosso hostel tinha uma van que nos levou à rodoviária. Despedimo-nos das simpáticas atendentes e lá pelas 9hs chegamos a rodoviária. Enquanto alguns faziam retirada de dinheiro fui aos guichês das companhias de transporte para ver a melhor opção entre tarifa e horário de saída. Compramos alguma frutas, bolachas e bebidas para nos alimentarmos no caminho e após uma breve espera na sala de embarque entramos no ônibus.

Justin sentou ao meu lado e como sempre conversamos enquanto observávamos a saída da cidade e o início da área rural colombiana. Em um determinado momento passamos por uma região de serras com muitas curvas. O caminho era perigoso, pois o ônibus tinha que ultrapassar os inúmeros caminhões muitas vezes pela pista de sentido contrário.

Quando o terreno ficou menos instável, consegui dormir um pouco. Os coreanos já tinham dormido desde o início.

Paramos na hora do almoço em um restaurante bem simples à beira da estrada. Comemos bem e continuamos a viagem rumo à segunda maior cidade do país. Joe falou um pouco sobre sua vida nos Estados Unidos e sua profissão de produtor musical. Ele trabalhava com clipes para grupos de Rap.

Entrou no ônibus um comerciante venezuelano afirmando que seus produtos tinham preços bem inferiores aos da Colômbia porque em seu país pagava-se menos impostos. Ele nos mostrou perfumes, relógios e óculos de sol. Talvez por impulso resolvi comprar um óculos Ray Ban que até hoje desconfio que seja falsificado, mas na hora nem pensei nesta hipótese.

Estávamos nos aproximando da zona metropolitana de Medellin e o comerciante nos avisou que em breve passaríamos pela antiga fazenda Nápoles, do famoso traficante de drogas Pablo Escobar, morto pela polícia em 1993. A área é equivalente a 22 vezes o Parque do Ibirapuera e tinha um zoológico que hoje é um parque de hipopótamos.

A verdade é que Pablo Escobar, líder do Cartel de Medellin era cruel com seus inimigos e foi responsável pela morte de três candidatos à presidência da Colômbia, pela explosão de um avião, entre outras diversas atrocidades. No auge do seu poder o cartel negociava cerca de 80% da cocaína consumida no mundo e seu líder era um dos homens mais ricos do planeta.

No entanto, Escobar tinha uma boa imagem junto aos pobres, pois buscava a melhoria da qualidade de vida deles e patrocinava times de futebol. Na minha passagem pela Colômbia foi lançada uma telenovela chamada Pablo Escobar: El Patrón del Mal.

Começou a escurecer e estávamos apreensivos querendo chegar logo ao destino. Aproveitando o guia turístico da Colômbia, que John carregava, comecei a pesquisar opções de hostel. Desta vez, achei melhor buscar a zona turística da cidade, a zona rosa e aproveitamos que Justin tinha um celular colombiano ligamos para alguns lugares.

Percebendo que havia um rapaz no banco de traz perguntei a ele se era colombiano para pedir algumas sugestões. Por sorte ele era e começamos a conversar. Perguntei a ele se ainda faltava muito para chegar ao destino e se conhecia algum hostel para nos hospedarmos. Ele nos indicou o bairro El Poblado.

Avistamos as luzes da cidade do alto e a animação tomou conta do grupo. Anotamos o telefone dele epercebemos que tinha dificuldades de falar em inglês e combinamos que ligaríamos mais tarde para ele sair conosco. Seu nome era Alex.

Pedimos para o taxista nos levar ao Tiger Paw e durante o caminho perguntamos a ele se haveria algum jogo de futebol no final de semana. Descobrimos que no dia seguinte haveria um jogo do Atlético Nacional e resolvemos tentar assistir no estádio.

Chegamos ao hostel e fizemos check in. Era um local bonito, com um belo bar, mesa de sinuca e bem localizado.

Assim, como em Bogotá fiquei junto com o Justin num apartamento com banheiro. John e Joe ficaram em outro. Tomamos banho e nos arrumamos para conhecer a nova cidade. Coloquei minha Guayabera, camisa branca com 4 bolsos frontais utilizadas por trabalhadores rurais para carregarem goiabas.

Pegamos um suco de abacaxi no bar para misturarmos com resto da garrafa de rum cubano e descemos para o bar que nesta hora já estava com várias pessoas. Sentamos na parte externa do hostel a acendemos um charuto Cohiba. Conhecemos um jovem guardador de carros que disse que poderia nos providenciar o que quiséssemos. Logo entendemos o recado.

Quando John e Joe desceram ligamos para Alex e combinamos de nos encontrar em frente a uma determinada casa noturna. Alex chegou de carro com sua namorada e logo começamos a conhecer a pé a região. Muita gente bonita nas ruas e um clima seguro nos deixou impressionados com as diversas opções noturnas de Medellin. Era um bar ao lado do outro com diversos ritmos e muita sofisticação.

Eu sentia uma harmonia muito grande entre nós. Parecíamos amigos de longa data e Alex com todas suas limitações de comunicação estava bem satisfeito em ser nosso guia. Descobrimos que ele era torcedor no Nacional e combinamos de ir ao jogo no dia seguinte.

John estava eufórico, falava que tinha feito uma ótima decisão em mudar os planos e me acompanhar a Medellin porque as mulheres eram lindas. Dizia que estava sentindo na Colômbia uma energia muito positiva. Repetia isso diversas vezes a medida que patrocinava rodadas de tequila...

-Men, I love this place!

Percorremos vários bares de El Poblado e tivemos uma noite de muita diversão.

 

Dia 4 – Medellín, dia 10 de novembro de 2012 (sábado).

Ao acordarmos chamamos nossos amigos asiáticos para darmos uma volta por
Medellin. Tomamos um café da manhã típico em um bar e partimos à caminhar pelo belo bairro de El Poblado.

Quando vi uma loja da companhia aérea Avianca, lembrei-me de que poderia verificar o valor da viagem para Cartagena. Poderia fazer um trecho por terra e o outro por avião. Ao sermos atendidos, verifiquei que o valor era caro. Surgiu-me a ideia de saber quanto sairia uma remarcação de bilhete para prolongar em alguns dias minha estada no país.

Decidi por fazer a remarcação, pois seria uma pena não poder ir a Cartagena ou ter que visitar o local com pressa. Restava-me comunicar minha decisão à família e à minha namorada.

A atendente sugeriu que eu procurasse vôos para Cartagena, da companhia local chamada Viva Colômbia! Este nome acabou sendo uma boa inspiração para o título deste relato.

John queria comprar uma camisa da Colômbia e para isso decidimos ir a um shopping ali perto. Ele não achou a camisa e depois de fazermos uma troca de moedas lembramos que poderíamos comprar os ingressos para o jogo do Atlético Nacional que ocorreria à noite.

Perguntamos a um taxista como fazê-lo e achamos que a melhor alternativa seria ir até o estádio Atanásio Girardot onde o clube tem seu mando de campo. Como estávamos em 4 pessoas valia a pena ir de táxi.

Assim, utilizamos o auxílio do próprio taxista que nos passou outras informações interessantes. Chegando ao estádio fomos direto à bilheteria e compramos entradas mais populares. Ficaríamos no meio dos Verdolagas, nome dado aos torcedores do Nacional.

Tivemos que retirar os ingressos na loja de artigos esportivos do clube e aproveitamos para fazer umas comprinhas para irmos caracterizados ao jogo. As cores do time são verde e branco. Eu comprei uma camisa preta de jogo e um agasalho de chuva verde.

Sem pressa paramos para comer um lanchinho e observar o cotidiano colombiano. Um senhor estava com uma bola e fiz um sinal para ele rolar a pelota para mim. Fiz umas embaixadinhas para mostrar a habilidade do brasileiro e logo estávamos jogando futebol na praça.

Calmamente resolvemos voltar de trem para o hostel. Dentro do vagão ficava claro que éramos estrangeiros e, por isso, chamávamos a atenção das pessoas. Como estávamos descontraídos e abertos a conhecer pessoas, constantemente conversávamos com os habitantes. Meus companheiros arriscavam algumas palavras do espanhol ao inglês e quando a comunicação ficava difícil eu os auxiliava. Sentia-me um turista, mas ao mesmo tempo um guia, pois tinha mais condições de interpretar as informações necessárias para tomarmos as decisões sobre nossos rumos na Colômbia.

Do trem víamos a beleza que é a cidade de Medellin. A cidade tem um aspecto peculiar. Fica entre duas enormes montanhas que têm um declive tênue onde as edificações estão construídas. Parece um grande tobogã onde se vê uma grande densidade populacional.

Medellin foi considerada a cidade mais violenta do mundo e na década de 90 sofria uma profunda degradação social. No entanto, com implantação de boas políticas públicas e o empenho da população a cidade reverteu o quadro caótico e se tornou um exemplo mundial de inovação para a revitalização urbana.

O Metrocable de Medellin é um exemplo dessa inovação e serviu de inspiração para o mesmo sistema de transporte utilizado no Morro do Alemão, no Rio de Janeiro.

Depois de tomarmos um suco, voltamos para o hostel e ligamos para Alex para convidá-lo para o jogo do seu time de coração, o Nacional. Combinamos um horário para que ele passasse para nos buscar.

Resolvi pesquisar sobre vôos para Cartagena. Chamei John e Joe, porém eles resolveram continuar suas viagens para outros países. Justin queria ir, mas hesitou um pouco. Eu resolvi aproveitar o preço baixo da passagem para comprar o trecho para Cartagena e de lá para Bogotá de onde retornaria para o Brasil. 

Naquele dia, Alex passou para nos buscar por volta das 17:30. O jogo estava marcado para às 19:45. Teríamos tempo o suficiente para entrarmos no clima da partida.

Paramos o carro no estacionamento de um shopping e de lá víamos o estádio iluminado. Estávamos eufóricos e resolvemos parar em um bar com vários torcedores. Pedimos uma torre de chopp que acompanhava um tira-gosto.

Próximo ao horário da partida entramos no estádio que é relativamente grande em formato oval e ficamos na ponta da torcida uniformizada. Apesar de pequena ela fazia muito barulho. E por coincidência o Nacional enfrentaria a equipe de Cartagena.

Pulamos e torcemos como os locais e como sempre nos abordavam por sermos estrangeiros. E eu sempre fazia a tradução.

O jogo terminou em 2 a 0 para o time da casa e nós ficamos felizes com o resultado. O dia tinha sido intenso e estávamos cansados. Voltamos para o hostel, descansamos e demos mais uma saidinha breve pela noite.

 

Dia 5 – Medellín, dia 11 de novembro de 2012 (domingo).

Ao acordarmos concordamos que seria ótimo conhecer o Metrocable, sistema parecido ao teleférico. Ele é integrado com o metrô, transporte que utilizamos para chegar à uma das paradas que realizam a conexão.

Medellin foi a primeira cidade do mundo a implantar este sistema para o transporte público de pessoas. Ele atende uma área menos favorecida da cidade e é um sucesso copiado mundo afora.

Depois de comprarmos uma pulseirinhas com as cores colombianas, pedimos informações de como proceder para conhecer o trajeto e fomos instruídos para não irmos para área dos morros.

O céu estava encoberto e à medida que subíamos rapidamente sentíamos a diferença de pressão em nossos ouvidos. Não chegamos a ir até o topo e ainda assim a altitude era impressionante. Abaixo víamos as construções inacabadas bem parecidas com as nossas favelas brasileiras.

Ficamos admirando a paisagem e depois resolvemos prosseguir nosso caminho descendo de Metrocable e partindo de metrô para passear.

As ruas estavam bem calmas. Afinal, era domingo. Caminhamos um pouco, tomamos um refrigerante local e logo nos informamos sobre os parques que poderíamos visitar. Compramos umas lembranças e tomamos um sorvete.

Achamos interessante passear no Jardim Botânico e tomamos um táxi. Como o local estava prestes a fechar resolvemos ir ao Parque de los Deseos. Caminhávamos calmamente para explorar os atrativos do parque. Ficamos por um tempo na fila de um trenzinho turístico mas percebemos que demoraria muito.

 
Fomos para o interior do parque e atravessamos uma ponte de madeira quando vimos um grupo de crianças sentadas e um educador cantando com uma espécie de pandeiro na mão. O homem entoava uma canção que ia criando conforme o que queria dizer e conforme as coisas que iam ocorrendo ao seu redor.

Dizia palavras de amor e emanava um carinho com as crianças que nos prendeu a atenção. Ficamos observando vidrados naquele momento. Ele percebeu a nossa presença e perguntou de onde éramos. Eu, como o “Relações Públicas” do grupo citei a nacionalidade e o nome de cada um de nós.

Ele ficou contente e explicou as crianças que vínhamos de muito longe e que éramos um presente para eles. Voltou a cantar suas canções improvisadas citando-nos no enredo.

Sem dúvida, aquele era um momento mágico. Fomos envolvidos por um sentimento de união e alegria ao ponto em que eu senti meus olhos enchendo de lágrimas.

Pablo parou novamente a canção e perguntou se queríamos cantar. Joe era muito tímido e disse que não. Eu também estava meio encabulado quando John disse que queria cantar uma canção típica da Coréia do Sul. As crianças fizeram um extremo silêncio. Pareciam muito bem educadas. John começou a bater palmas calmamente e cantar. Fiz um vídeo para registrar mais um momento de grande emoção.

Ao terminar todos bateram palmas para agradecer. Justin também foi convidado e fez sua canção. Não tão artisticamente com John, mas também arrancou palmas da plateia.

https://www.youtube.com/watch?v=icYYjzm4Mho
 
Senti que mais do que qualquer outra coisa o que valia era a contribuição e, por isso, pedi o pandeiro de Pablo e fiz uma pequena demonstração com o instrumento cantando um pouquinho de Garota de Ipanema. Também fui ovacionado e recebi o agradecimento de Pablo e das crianças.

Conversamos um pouco e logo os pais e as crianças nos pediam para tirar fotos conosco. Era engraçada a situação. Deixamos o local calmamente preosseguindo com nosso passeio no parque e logo um grupo de adolescentes nos abordou novamente para fotos. John era a grande estrela.

Ao sair do parque escutamos bandas marciais tocarem. Seguimos as pessoas e logo e estávamos acompanhando o cortejo e bebendo cerveja. Ficamos admirando o espetáculo e resolvemos voltar de táxi para o hostel. Ligamos para Alex para combinar um jantar de despedidas.

Era domingo e Justin conseguiu comprar um bilhete aéreo para ir a Cartagena na terça-feira. Combinamos que assim que eu definisse em qual hostel me hospedaria eu enviaria uma mensagem à ele via Facebook para que ele tivesse o endereço e me encontrasse.

Resolvemos aproveitar nossos últimos momentos juntos indo a um restaurante mais refinado. Pedimos nossas refeições acompanhadas de vinhos. Lembramos dos grandes momentos que passamos juntos e estávamos contentes por termos nos conhecido. Alex continuaria sua vida na trabalhando na construtora, John e Joe continuariam na manhã seguinte, sua viagem de descobertas pela América do Sul antes de voltarem para os Estados Unidos. Justin me encontraria em Cartagena e continuaria a viajar pela Colômbia antes de voltar para a Austrália e eu teria mais alguns dias em Cartagena e logo voltaria a trabalhar com a Copa do Mundo de 2014.

 
 Alex tinha que ir para casa ver sua namorada. E John estava agitado. Ele não queria sair da Colômbia sem ir a uma casa de Strip Tease. Por isso, combinou com Alex que passaria no hostel por volta das 02hs da manhã.

Voltamos para o hostel dormir. John nos convidou para o passeio da madrugada mas não demos uma resposta definitiva. Eu teria que acordar por volta das 07:30 da manhã para ir ao aeroporto.

No horário combinado John bateu em nossa porta. Já tínhamos dormido um pouco a ponto de descansar. Por isso, não íamos deixar nosso amigo coreano desamparado. Joe não estava. Optamos por juntar forças e aceitamos a missão.

 Alex chegou e nos levou par mais um tour noturno. Mas desta vez um pouco diferente.

Ele nos levou a alguns locais que estavam fechados. Fomos a região mais alta da cidade e pedi para darmos uma parada, pois estava com fome. Era um local mais perigoso. Os rapazes decidiram esperar no carro enquanto eu pedia um sanduíche em uma barraquinha.

De repente uma cena incrível! Uma garota saiu do carro que começou a descer a ladeira sem motorista. Ela gritou e uns rapazes entraram na frente do veículo tentando pará-lo. Eles conseguiram diminuir a velocidade dele mas mesmo assim o carro subiu um jardim e por sorte chocou-se com um poste. Todos ficaram aliviados com o desfecho da história.
Voltei para o carro e continuamos nosso percurso até chegar a uma casa de strip que estava aberta. Entramos timidamente e mais uma vez éramos os únicos estrangeiros. Timidamente resolvemos pedir uma garrafinha de rum para fazermos uma Cuba Libre e ficamos observando o show.

A anfitriã da casa nos apresentou uma linda morena com a qual ficamos conversando. De repente quando achávamos que ainda teríamos mais tempo na casa fomos surpreendidos com o anúncio do último show.

Assim, cumprimos a última aventura em Medellin. Despedi-me do nosso grande anfitrião Alex, que foi embora para casa.

John chamou Joe e me convidou mais uma vez para visitá-lo em Las Vegas. Era madrugada e logo se despediram de nós e foram para o aeroporto de táxi.

Eu tinha que aproveitar umas duas horinhas de sono antes de partir para Cartagena. Voltaria a estar temporariamente sozinho.

 

Dia 6 – Medellín/Cartagena, dia 12 de novembro de 2012 (segunda-feira).

Mal fechei os olhos já tive que abrí-los para dar sequência na viagem. Em poucos minutos estava pronto pra entrar no táxi que tinha agendado na noite anterior. Justin acabou acordando e me acenou da janela do quarto que dava de frente para a rua.

O céu estava encoberto e apesar de ter dormido pouco eu me sentia disposto. O percurso até o aeroporto era belíssimo. Subimos muitos metros em zigue-zagues e muitos ciclistas pedalando pelo caminho. O asfalto era impecável e a vista maravilhosa.

 
Procurei o guichê da companhia Viva Colombia para fazer o check in e logo estava na pequena aeronave ao lado de uma bela colombiana que voltava para sua cidade, Barranquilla.

Ao desembarcar, peguei mais um táxi com destino a aérea turística de Cartagena e passei por umas praias bem diferentes. Tinham areia escura e muita gente jogando futebol.

Contornamos a cidade amuralhada e pedi ao taxista que me deixasse em um hostel. Novamente teria que buscar por um lugar onde houvesse um quarto privativo para deixar minhas coisas sem preocupação. O problema era que a cidade estava lotada e foi difícil encontrar. Aquele domingo em Cartagena seria foi o último dia da eleição da Miss Colômbia e por isso as vagas nos meios de hospedagem estavam muito concorridas.

Andei bastante até encontrar o hostel Media Luna onde negociei com um chileno um quarto imenso e super bem localizado e por um ótimo preço.

Senti-me na suíte presidencial que dava para um piscina com cascata. Vários turistas, visivelmente de vários países, estavam por ali. Deixei uma mensagem com o endereço do hostel no facebook para Justin pudesse me encontrar no dia seguinte.

Dei uma cochilada para recuperar o sono perdido e depois de comer algo voltei para o hostel quando caiu uma chuva torrencial. Com o calor que fazia não hesitei em ser o primeiro a entrar na piscina e logo fui acompanhado por outros turistas. O ambiente era muito amigável. Conheci um indiano, um americano, uma mexicana e Nico, um argentino.

Assim que a chuva terminou resolvi dar uma caminhada para tirar fotos no final da tarde e aproveitar um luz mais amena. Levei minha câmera de mão, pois não queria chamar muita a atenção com um equipamento mais sofisticado.

Comecei a caminhar e percebi que me distanciava das muralhas da cidade antiga. Resolvi voltar pois percebi que estava em um local não muito seguro. Entrei na aérea histórica e como em um tour panorâmico passei rapidamente pelas ruas tirando fotos principalmente da bela arquitetura que revelava as belas cores na luz do final da tarde.

Voltei para o hostel e recebi Justin. Eu estava bem contente com meu quarto e resistente a ter que dividí-lo com meu parceiro de viagem. Queria ficar sozinho. Achamos um outro quarto para ele onde estava um argentino que acabamos fazendo amizade, o Nico.

O clima era bem agradável e por isso resolvemos ficar à beira da piscina, tomando um rum com suco de abacaxi e fumando um cubano. O ar era muito úmido. As folhas enroladas do charuto ficavam macias e dilatadas. Nunca havia visto um lugar tão úmido.

Passamos à noite conversando em um ambiente muito legal com jovens de todas as partes do mundo. Todos os ingredientes para uma bela noite estavam ali no hostel.

Antes de dormir combinamos alugar bicicletas para passear no dia seguinte.

 

Dia 7 – Cartagena, dia 13 de novembro de 2012 (terça-feira).

Ao acordar aos poucos fomos nos encontrando. Eu, Justin, Nico. Chamamos também o indiano e o americano que conhecemos no dia anterior. Resolvemos ir até a venda do outro lado da rua para comprar alguns pães, frios e bebidas para o nosso café da manhã. Com aquele ambiente de camaradagem fizemos nossa primeira refeição do dia quase na hora do almoço. Fizemos uns mistos quentes na cozinha do hostel.

Nico apresentou outro amigo argentino e logo partimos para o passeio.



 
Fomos ao centro histórico e alugamos as bicicletas. Resolvemos nos dirigir à área turística onde os grandes hotéis estão localizados. Começamos a pedalar margeando os muros da cidade antiga. Sentia-me com a liberdade de um adolescente enquanto nos divertíamos muito durante o caminho.
O céu estava encoberto. Logo avistamos a praia de areia escura com várias barraquinhas com publicidade, o que causava poluição visual.

Deixamos as bicicletas equilibradas e fomos assediados por alguns vendedores que nos chamaram para sentar. Justin correu para dar um mergulho no mar. Não hesitei e logo estava correndo em direção as ondas. A temperatura da água era excelente para o banho.

Voltamos a nos reunir e umas mulheres se aproximaram de nós. Não estávamos entendendo o motivo mas logo uma moça nos ofereceu fazer massagem. Sem cerimônias uma começou a massagear as costas de um outra de outro mostrando um pouco do trabalho.

E realmente era uma massagem muito boa. Elas informaram o preço e nós agradecíamos, nos esquivando da proposta. No entanto eu me perguntei. Por que não aproveitar o momento? Estava mesmo precisando relaxar minhas pernas e pés. Andava muito todos os dias.

A negra Maria molhava sua mão em um preparado com sabão e caprichava na massagem. Sentia-me como um jogador de futebol. Justin também rendeu-se as habilidosas mãos das massagistas.

À medida em Maria que escorregava suas fortes mãos pelas minhas coxas com o maior profissionalismo explicava que trabalhava na região há muitos anos. Os outros rapazes mantiveram-se resistentes e não quiseram aproveitar a oportunidade.

Foi um ótimo preço para sentir-me totalmente relaxado. Lembro-me da sensação de leveza até hoje. A tarde caía e o vento soprava levemente. Descansamos um pouco e resolvemos continuar com as pedaladas.

No entanto a corrente da minha bicicleta começou a cair e eu ia ficando para trás. Não queria atrapalhar a pedalada dos demais e, por isso, comecei a correr levando a bicicleta. Paramos um pouco mais à frente e vimos um grupo chegar com a pescaria.

Tivemos a ideia de comprar uns peixes para prepará-los no hostel. Era um peixe diferente e comprido. Negociamos um valor para 6 unidades e pedimos instrução para o preparo.

Resolvemos voltar para o centro histórico e eu pedi para eles irem devagar pelo problema que estava enfrentando com a bicicleta. Levei os peixes na cesta que a bicicleta tinha, pois ninguém se ofereceu para o serviço de reparo.

Quando estávamos chegando no local onde alugamos as bikes resolvi fazer uma brincadeira com Justin. Peguei a sacola de peixes e pedalei me aproximando da bicicleta dele para transferir a carga para ele. No entanto a manobra foi mal sucedida e a sacola caiu no meio da rua espalhando os peixes no asfalto.

Em uma ação rápida desci da bicicleta e reuni os peixes um a um numa cena perigosa pois tivemos que parar o tráfego mas ao mesmo tempo hilária pela sua dramaticidade. Meus colegas me ajudaram a “pescar” os peixes estirados na rua e ficaram preocupados com a possibilidade da perda da nossa refeição. Mas quando viram que o resgate foi bem sucedido começaram a gargalhar. Que cena!

Voltamos a pé e cheirando a peixe e ainda terminamos a missão indo ao supermercado para comprar o papel alumínio, limão, tomate, cebola e os condimentos para preparar o jantar comunitário.

Comecei com Justin a preparação do prato com o auxílio de um hóspede do hostel que nos ensinou como “limpar” o peixe. Naquele momento me senti um pouco desapontado por ser um caiçara que não sabia fazer esse trabalho básico.

Depois que a parte “suja” já estava realizado decidi ir para meu cômodo para tomar um banho.

Quando voltei já estava quase tudo pronto. O banquete foi servido para uns 8 convidados e comemos como uma grande família.

Tivemos mais uma noite regada de bebidas e muita diversão. Na manhã seguinte faríamos um passeio de barco para conhecer uma das praias mais afastadas da região, a Playa Blanca.

 

Dia 8 – Cartagena, dia 14 de novembro de 2012 (quarta-feira).

O grande passeio do dia estava definido: Playa Blanca. Depois do café saímos com outros colegas do hostel com o objetivo de comprar o passeio de barco. Estávamos em 7 pessoas: Justin, dois americanos, um indiano, duas norueguesas e eu. Combinamos  com um vendedor de rua que, assim que fizéssemos um câmbio, iríamos para a frente do pier fazer o acerto.

Demos uma rápida passada no centro histórico e logo estávamos comprando o passeio de barco que dava direito a um almoço e a parada na praia. O retorno deveria ser avisado com antecedência, mas podia ser realizado no mesmo dia ou nos dias seguintes, sempre no final da tarde, por volta das 16hs.

Como eu regressaria ao Brasil na manhã seguinte não poderia ficar na ilha. Os demais companheiros ficariam. Justin estava na dúvida.

Acontece que quando Justin hesitou em comprar o ticket aéreo entre Medellin e Cartagena tendo que passar mais uma noite no Tiger Paw algo muito estranho aconteceu. Um rapaz perturbado mentalmente se hospedou no albergue e teve uma crise de loucura na qual entre outras coisas roubou o celular de Justin. Muito agressivo ele desapareceu e Justin disse não ter podido fazer nada.

Então Justin parecia que me tinha como seu guia, confiando nas minhas decisões que de fato estavam sendo assertivas sobre os passos a serem dados durante a viagem. Tanto em relação a programação como com relação a nossa segurança e dos nossos pertences. Por isso ele estava propenso a voltar comigo no mesmo dia.

Com o barco cheio de turistas partimos sentados na proa. Era uma embarcação rápida e aos poucos a cidade ficava para trás. O vento forte arrancava os chapéus das pessoas e por isso tirei o meu boné.

Após cerca de 45 minutos ancoramos na praia e nos surpreendemos com a cor da água. Descemos e nos encontramos com os outros que estavam numa outra embarcação. Ao caminharmos éramos abordados por vendedores de diversos tipos de comidas e artefatos.

Resolvemos nos afastar um pouco do lugar mais agitado e caminhamos uns 500 metros para montarmos nossa base. O indiano pegou uma bolinha diferente e começamos a brincar com ela tanto na areia como no mar. E foi a primeira vez que entrei no mar caribenho. Quando estive em Cuba pensei ter tido minha primeira experiência, porém o mar de Varadero não é parte do Caribe e sim do oceano Atlântico.

Mas essa é apenas uma mera questão técnica pois a clareza da água e a sua temperatura são muito similares. Uma delícia!

As meninas fritavam o corpo deitadas na areia e quando paramos de nos exercitar tentamos buscar abrigo do sol pois o calor era intenso.

Logo já era hora de almoçar e a refeição estava inclusa em um dos restaurantes, ou melhor, cabanas localizadas no local onde tínhamos desembarcado.

No menu a sugestão era peixe frito. E foi com muito prazer que devoramos nossos pratos para nos alimentarmos com toda a energia que precisaríamos para continuar o dia. Mas, na verdade, muitos acabaram dormindo vencidos pelo clima úmido e quente. Eu evitei dormir, pois tinha apenas mais uma horinha e meia para aproveitar.

Na praia havia um tipo de hospedagem bem roots. Eram pequenos quartos erguidos em frente à praia coloridos e aconchegantes. Cheguei a visitar um deles. Subia-se uma pequena escada e chegava-se no cômodo que tinha espaço apenas para um colchão de casal.

Queria poder ficar para curtir um pouco mais a ilha, porém por volta das 15:30 o barco partia. Meu fiel companheiro Justin resolveu voltar comigo. Despedi-me do pessoal e embarquei na lancha chamada Surysaray.

Ao chegarmos à cidade passamos brevemente pelo centro onde vimos mais uma bela apresentação de dança folclórica e me impressionei com um menininho que tocava o atabaque com ritmo e maestria como um veterano.

Voltamos ao hostel, nos encontramos com Nico e logo lembramos que era dia de amistoso de futebol entre Colômbia e Brasil em Barranquilla. Trocamos as roupas e fomos para um bar temático que Nico conhecia.

 
Tomamos umas cervejas enquanto assistíamos a um jogo sem graça entre as duas equipes. A Colômbia abriu o marcador e o Brasil empatou no final. Eu assisti ao jogo com a camisa da Colômbia, mas torcia pelo Brasil. Os frequentadores locais não entenderam nada.

A quarta-feira era a noite em que nosso hostel produzia uma festa e por mais que tivéssemos tido um dia repleto de atividades não poderíamos curtir minha última noite da viagem. Nos embalamos na música ao vivo no primeiro andar e logo fomos para a cobertura, onde a diversão era comandada pelos DJs.

Conheci um pessoal local e mais uma vez me diverti muito apesar do cansaço. É incrível como nossa mente tem poder sobre o nosso corpo. Quando realmente queremos fazer algo nos superamos pela vontade de viver o momento.

 

Dia 9 – Cartagena / São Paulo, dia 15 de novembro de 2012 (quinta-feira).

Consegui acordar cedo para completar a viagem comprando lembranças locais. Saí caminhando até chegar à loja da Hard Rock Café onde tinha visto umas camisas bacanas. Comprei algumas outras coisas e voltei para o hostel para tomar um banho, me despedir de Justin e Nico, além do atendente chileno.

Relaxado do clima úmido de Cartagena, tomei um táxi e pedi para ligar o ar condicionado. À medida em que via as últimas paisagens e as últimas pessoas locais sentia toda a satisfação de ter vivenciado uma viagem maravilhosa, iniciada em Havana e terminada em Cartagena.

Tive uma viagem de regresso tranquila onde fui recebido no aeroporto por meu amigo Felipe Cabeça e minha namorada Juliana.

A Colômbia me deixou a impressão de um país em franco desenvolvimento. As pessoas correm atrás do seu crescimento e as tradições culturais são bem presentes no cotidiano. O país parece sempre em festa e por isso nada mas justo do que celebrar:
Viva a Colômbia!!!