Mãe da Terra
Expedição África do Sul
Introdução
Ah... se eu pudesse conhecer a África do Sul durante a Copa
do Mundo de 2010. Seria uma experiência maravilhosa! Seria a primeira vez que
presenciaria o maior evento do planeta. Porém, como nunca é tarde para realizarmos
nossos desejos, mesmo atrasado, resolvi conhecer este país que mexia com minha
imaginação.
Sabia que nele havia várias línguas oficiais, que era um
país muito miscigenado como o Brasil, mas que ainda assim, havia uma grande
luta pela igualdade racial e que o índice de pessoas contaminadas pelo HIV era
muito alto. Por outro lado, tinha a impressão que o povo era muito animado e
sabia que gostavam muito de futebol. A Copa do Mundo mostrou um pouco sobre o
país e me instigou ainda mais a curiosidade.
Como não poderia deixar de ser comecei a planejar minha
viagem assim que tive definida a data de minhas férias. Adoro este processo de
pesquisa e de tomada de decisões!
Como minha namorada já tinha visitado o país, comecei
pedindo dicas à ela que me indicou uma empresa que fazia safaris, a Nomad
Tours. E assim, com o auxílio de Fernanda, uma brasileira que morava e trabalhava
na África do Sul, comecei a montar o quebra cabeças para que minha viagem
pudesse ser o mais completa possível para o tempo que eu tinha disponível.
Três experiências não poderiam deixar de serem vivenciadas:
uma era simplesmente participar de um safári para ver os animais selvagens.
Talvez este seja o atrativo turístico mais característico do país.
Neste caso, optei pelo destino mais famoso, o
Kruger Park. A outra experiência imperdível seria conhecer a Cidade do Cabo,
eleita uma das mais belas cidades do mundo. E a terceira conhecer uma das
regiões produtoras de vinho e pela conveniência da localidade, próxima à Cidade
do Cabo esta provavelmente seria Stellenbosh.
O voo escolhido passaria primeiramente por Joanesburgo.
Poderia começar minha viagem por lá ou optar por voltar para a Cidade do Cabo
para realizar a viagem pelo sentido inverso. Verifiquei as datas das saídas do
safári e decidi pela primeira opção. Chegaria pela manhã em Joanesburgo e logo
embarcaria numa viagem rodoviária para o Kruger Park, cerca de 400 km distante.
Apesar de ter sido “conservador” por escolher um destino
conhecido para realizar o safari resolvi inovar ao escolher a maneira de fazer
a viagem. Optei por contratar o serviço da Nomad tours na qual o transporte é
feito por um caminhão adaptado com uma grande infra-estrutura. As acomodações
podem ser realizadas em lodges ou em
barracas. Optei pelo acampamento pela experiência. Parecia ser uma maneira mais instigante.
Uma amiga me emprestou um guia da Folha de São Paulo sobre o
país e ao ler outras informações em outras fontes de pesquisa já me considerava
minimamente instruído para não ter surpresas desagradáveis. Porém, um grande
contratempo ocorreu.
No domingo dia 03 de novembro de 2013 fui para a praia em
Santos com minha namorada para curtir os momentos anteriores à viagem. Comecei
a pensar sobre ela quando lembrei que o início do safári estava marcado para o
dia 04. Achei estranho, pois estava muito em cima da hora. De repente um calor
desesperador subiu ao meu corpo quando surgiu a ideia de que eu poderia ter me
confundido com a data de viagem. Pensei novamente e percebi que fazia sentido.
Eu tinha me enganado. Logo eu. Aquele viajante tão organizado!
Voltei para casa e peguei as informações sobre o bilhete
aéreo. A saída estava marcada para as 02:30 da manhã do dia 03, e não do dia
04. Senti-me um estúpido, mas tinha que resolver a situação o mais rápido possível.
Liguei para a minha agente de viagens que disse que iria tentar por seus meios
a remarcação da passagem sem custos ou com o mínimo de custos possível.
Ela verificou os horários de vôos daquele dia e me informou
que haveria um no final da tarde. Se eu embarcasse naquele vôo teria chances de
chegar em cima da hora para iniciar a viagem que me levaria ao safari do Kruger
Park. Seu conselho foi que eu fosse ao aeroporto e explicasse a confusão
pessoalmente. E foi o que eu fiz.
O atendente explicou que a categoria da minha passagem não
permitia alteração, ou seja, teria que comprar uma nova e solicitar um
reembolso, que dificilmente conseguiria.
Assim teria que pagar quase R$ 2500 para não cancelar meus
planos. Diante da situação mantive a calma e pedi para o atendente cobrar a
passagem no meu cartão. Nada me faria desistir da minha viagem de férias.
Assim que comprei a
passagem avisei a Fernanda que assim que desembarcasse iria diretamente ao
ponto de encontro.
A adrenalina já tinha começado antes mesmo da viagem.
Dia 1 – Joanesburgo /
Kruger Park – segunda-feira, 4 de novembro de 2013
Cheguei a África do Sul no horário previsto, as 07:05.
Descemos do avião e pegamos um ônibus interno para fazer chegar ao terminal de
desembarque. Percebi que havia uma enorme fila e por isso procurei um
funcionário do aeroporto para explicar minha urgência. Ele me colocou na frente
da fila e um pouco constrangido, porém com a certeza de que aquilo era
necessário dei entrada nos trâmites de imigração para dar entrada no país.
Cheguei à área de retirada de bagagem e chequei o horário.
Já eram 7:30 e a saída para o safári estava marcada para as 8:00. Algumas malas
começaram a sair e o tempo ia passando. Comecei a ficar agitado. Pensei que a
melhor atitude seria avisar a Nomads que eu já tinha desembarcado. Percebi que
uma senhora, que parecia ser guia de turismo estava usando o celular. Assim que
ela desligou expliquei a situação e pedi para utilizar seu telefone.
Consegui contato com a agência e avisei que em breve chegaria
no ponto de encontro, um hotel distante poucos quilômetros. Fiquei mais
tranquilo, porém ainda assim teria que descobrir de que parte do aeroporto
sairia o transfer para o hotel Garden Court O.R. Tambo.
Finalmente avistei minha mala, peguei-a e me informei sobre
o transfer. Caminhei uns 200 metros e logo encontrei o motorista da van
correta. Ele disse que eu estava com sorte pois já estava partindo.
Em menos de dez minutos chegamos ao hotel e logo pude ver o
caminhão branco da Nomads. Eram mais ou menos 8:05. Que alívio! Paguei o
transfer e me apresentei ao guia Allen e ao motorista Stephen. Entrei no
veículo cumprimentando o pessoal e deixei minha bagagem próxima ao único
lugar disponível, no fundo do caminhão.
Conheci um alemão de Colônia e passados uns 15 minutos
iniciamos nosso longo percurso até o parque nacional.
Na véspera de viagem eu tinha machucado minha costela ao
jogar futebol. E à medida que o caminhão chacoalhava eu sentia uma forte dor.
Foi bem difícil o início da viagem mesmo com toda a empolgação de uma expedição
inédita.
Passei a conhecer alguns dos viajantes. A maioria era de
alemães, seguidos por americanos, australianos, Eu era o único representante
sem compatriota.
O início do percurso era uma grande reta. A estrada era
muito bem conservada e como eu já sabia os condutores dirigem na “mão inglesa”.
Na vastidão da geografia africana desfrutávamos da nossa refeição com o ruído
dos veículos que passavam de tempos em tempos como flechas nos dois sentidos.
Desarmamos a estrutura, lavamos os utensílios e voltamos à
viagem. Com paciência escutava um pouco de música no ipod e lia sobre a África
do Sul. Sentia um pouco de cansaço e a dor na costela. Próximo ao final da
tarde paramos em um centro de reabilitação de animais selvagens, chamado Maholoholo.
Fomos recebidos por um guia que nos mostrou alguns ossos de
grandes mamíferos e posteriormente nos conduziu aos cativeiros de diversas aves
de rapina, do leão, leopardo, hiena, chitas e de roedores africanos.
Já estava quase anoitecendo quando voltamos à estrada. Como eu
estava ansioso parecia que a viagem não tinha fim. Afinal, já estava mais de 24
horas viajando desde o Brasil. Nosso guia pediu desculpas explicando que
tiveram que mudar o roteiro daquele primeiro dia de viagem o que causou um
atraso. Chegamos no Nkambeni Safari Camp às 20:30 e pelo atraso os que ficariam
acampados, como eu, ganharam hospedagem nas habitações do lodge.
Depois de um percurso de mais de 500 km por terra seria
ótimo tomar um banho quente, trocar de roupa, jantar e ir direto para a cama.
Impressionei-me com a arquitetura da casinha onde fiquei. Era erguida pelo
sistema de palafita, toda de lona com proteção contra inseto nas janelas.
Notava-se que era uma construção ecologicamente correta que não causava um
impacto visual agressivo ao entorno.
Fui jantar e sentei-me com um casal alemão com o qual fiquei
conversando. Comi um tipo de feijoada com purê, carne, arroz e feijão. Uma
comida bem parecida com a nossa. Senti-me em casa.
O guia, Allen, sentou em
nossa mesa para passar a programação do dia seguinte. Fui surpreendido com meu telefone celular do trabalho que
tocou. Expliquei ao cliente que estava de férias e voltei para meu alojamento
dormir por volta das 23hs. Estava com o corpo moído. Conectei meu carregador de
baterias para ter o meu equipamento fotográfico pronto para o safári. Nunca
tinha visto uma tomada daquele formado. Dois pinos cilíndricos paralelos, mas
com um diâmetro bem maior do que estamos acostumados. Tive que pedir um
adaptador na recepção. Deitei-me e dormi subitamente nos macios travesseiros
africanos. Descanso merecido e necessário.
Dia 2 – Kruger Park –
terça-feira, 5 de novembro de 2013
Meu wake up call (despertador) não foi uma ligação no quarto e sim algo mais original. Afinal, estava na
África.
Aproximadamente às 04:45 da manhã acordei com uma forte batida na porta e logo imaginei que era o Allen, nosso guia. Tomei mais um banho para dar aquela despertada e notei que a água escoava entre as madeiras do piso. Preparei minha mochila com um lanchinho para a trilha. Faríamos um safari a pé pela savana sul africana.
Cheguei ao ponto de encontro e aos poucos os demais foram
chegando. Já estava claro e a luz era bem amena, ideal para tirar fotos. Fazia
um pouco de frio. As caminhotes abertas estavam estacionadas e mesmo sem café
da manhã embarcamos para a aventura.
Estava com minha câmera equipada com uma lente teleobjetiva
para captar imagens à longa distância. Deixamos o complexo turístico passando
pelo portão chamado Numbi e pegamos a estrada asfaltada.
Como a caminhonete era aberta o vento frio incomodava um
pouco. Eu estava sem casaco e por isso usei uma toalha que envolvia a câmera
para proteger-me. Os primeiros grandes animais a serem vistos foram os filhotes de cervos.
Cerca de 20 minutos após a partida paramos e desembarcamos.
Os guias prepararam seus rifles e nos passaram algumas instruções. O guia
principal era um rapaz loiro e o guia de apoio um negro mais velho com cara
fechada, muito observador. Eles pediram para andarmos próximos uns dos outros e
para tentarmos manter o silêncio para não afastarmos os animais.
Eu não tinha estudado muito a programação do safári e me
surpreendi ao saber que andaríamos em plena savana selvagem. E para minha
surpresa os dois guias ficavam na frente do grupo, o que em minha opinião não é
uma prática correta.
Como eu parava para tirar fotos acabei ficando por último e
às vezes ficava distante do grupo sem lembrar sobre eventuais
ameaças. Chegamos a uma poça de água e os guias nos mostraram a ossada da
cabeça de um grande mamífero.
Prosseguimos a caminhada e avistamos um búfalo que nos
fitava fixamente de longe. Tentamos nos aproximar, mas aos poucos ele ia se
afastando. Mais à frente vimos um rinoceronte branco. Os guias fizeram um
caminho diferente para tentarmos nos aproximar o máximo possível. Deu para
tirar algumas fotos a uns 50 metros de distância.
O sol começou a ficar
mais forte e paramos para dar uma descansada e fazer um lanchinho. Ficamos
conversando e logo fizemos o caminho de retorno quando a uma grande distância
vimos um elefante.
Mas o mais surpreendente foi ver um pequeno felino dentro de
um buraco no tronco de uma árvore com vários filhotinhos.
Sem dúvidas este passeio foi bem interessante. Afinal, não é
sempre que podemos estar cercados de vida realmente selvagem.
Voltamos para o Lodge em torno de 9:20 quando tomamos
preparamos um café da manhã e fizemos o check out para continuarmos com a
programação.
Voltamos para nosso caminhão e passamos a fazer um game drive, safari motorizado. De
repente o guia parou e nos mostrou uma pequena tartaruga no meio da estrada e
logo mais à frente besouros rolando uma espécie de bolas de fezes. Muito
bizarro!
Ao decorrer do caminho também vimos zebras e impalas.
Chegamos a outro complexo turístico o Pretorius Rest Camp, no final da tarde.
Tínhamos a opção de fazer um game drive noturno, porém eu recusei. Já tinha
visto muitos animais.
Descobri que havia uma piscina e aproveitei para dar um mergulho.
Os passarinhos cantavam bastante e eu ficava pensando no dia
que tive, na liberdade e na satisfação de estar no continente africano.
Liguei para minha família para dizer que estava vivo e
comprei uma garrafa de vinho para acompanhar o esperado jantar.
Botsuana. Eles curtiram a minha pessoa e eu me
sentia como no Brasil. Ao som de Bob Marley que vinha do caminhão, ficamos
conversando. Ali perto eu via minha barraca e a linda lua cheia numa paisagem
simples e majestosa.
Depois de fazermos brincadeiras e darmos gostosas
gargalhadas fomos dormir, pois as atividades ocorreriam novamente bem cedo!
Dia 3 – Kruger Park –
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
O café da manhã estava marcado para as 5:30. Recebemos a
companhia ilustre de uma família de micos em busca de comida que nos rendeu
diversão logo cedo. Arrumamos as coisas e partimos para mais um dia em busca
dos animais. Principalmente dos big five
(leão, leopardo, elefante, búfalo e rinoceronte).
Logo no início do trajeto avistamos uma grande manada de
elefantes. Nosso guia explicou que os grandes animais evitavam o calor do dia e
que teríamos maiores chances de vê-los de manhã cedo. Ele comentou também que a
época da seca é a melhor para avistar animais já que há menos vegetação e os
animais tendem a se concentrar mais nas áreas próximas de onde há água.
Vimos zebras, girafas, gnus, hienas e diversos outros
animais. Quando um animal era visto os motoristas das caminhotes se comunicavam
por rádio e logo havia uma concentração de pessoas para tirar fotos.
Nosso guia se mostrou muito excitado quando disse que viu um
leopardo. Porém, perdeu-o de vista.
Dirigiu para um local mais adiante para
tentar encontrá-lo. Logo estávamos acompanhados de outros veículos. Ninguém
conseguia encontrar o animal que tem costume de andar só.
A expectativa era grande. Parecia um jogo no qual o primeiro
que visse o leopardo seria o grande campeão. De repente o nosso guia fez uma
manobra brusca de ré, passou por todos os outros veículos e assim pudemos ver o
belo felino atravessando a estrada. Quando passamos por trás dele o animal deu
uma breve virada. Disparei algumas vezes a câmera e consegui uma única foto com
o leopardo mostrando seus belos olhos verdes apenas para os sortudos.
O guia disse que dentre os big five aquele era o mais difícil de avistar. Ficamos muito
satisfeitos.
Faltava apenas o rei da floresta.
Voltamos à estrada e numa descida fomos surpreendidos com a
travessia da estrada de dois rinocerontes. Tirei uma das mais belas fotos da
viagem. Uma bela composição com o reflexo do sol na estrada, a silhueta de um
animal adulto seguindo seu filhote, sendo observados por jipes enviesados para
uma melhor visualização dos animais.
Prosseguimos o passeio chegando a um monte que era um
mirante de onde se tinha uma visão de 360 graus. Enquanto dávamos uma
descansada chegou um grupo de brasileiros.
Na hora do almoço paramos em um resort para nos alimentar e
continuar o safári pela tarde.
Consegui avistar um crocodilo no rio que cortava
o relevo.
Era a hora da “caça” ao Leão. O guia nos explicou que como
estava muito quente dificilmente os encontraríamos. Depois de percorrermos
muitos quilômetros, contamos mais uma vez com a experiência do guia que sabia
onde poderíamos encontrar uma alcatéia. E assim, vimos com muita distância
alguns leões deitados com a maior preguiça.
Estava completo o safári!
A noite caiu e mais uma vez ficamos conversando à luz do
luar curtindo aqueles momentos em contato com a natureza em plena África.
O menu da noite: um braai,
que é o churrasco africano com linguiças e carnes. E mesmo não sendo a bebida
mais indicada para acompanhar a refeição optei por comprar um vinho branco.
Senti-me mais em casa do que nunca! Era evidente que a cultura
africana é parecida com a brasileira.
Os guias queriam definir qual seria o horário que
partiríamos no dia seguinte. Para isso nos perguntou sobre nossos compromissos.
Eu era o que teria o compromisso mais cedo. Meu vôo partiria de Joanesburgo
para Port Elizabeth às 19:55.
Todos gostariam de acordar mais tarde. Por isso tive que
dizer em tom humorado que não era minha culpa.
Dia 4 – Kruger Park /
Joanesburgo / Port Elizabeth – quinta-feira, 7 de novembro de 2013.
Levantamos o acampamento e saímos por volta das 6:15 para
continuar a viagem pela região nordeste do país. O dia estava nublado e eu pedi
para os guias colocarem meu ipod para tocar Freshly Ground, uma banda sul
africana, apresentada para mim pelo meu amigo Felipe, que já havia morado na África
do Sul.
Eu estava preocupado, pois a viagem era longa e eu teria que
estar no aeroporto por volta das 18:30.
Conforme o programa depois de passarmos por diversos
vilarejos onde se via a vida cotidiana da população, nossa primeira parada foi
no God´s Window (a janela de Deus). Como o nome sugere, entre duas paredes de
formações rochosas havia mirantes que propiciavam belas paisagens da vastidão
do território africano como se fosse olhar por uma janela. Esta é uma região
montanhosa, de alto índice pluviométrico o que propicia o desenvolvimento de
florestas e a presença de diversas cachoeiras.
Fazia um pouco de frio. Então, reembarcamos no caminhão para
prosseguir a viagem até o início da região do cânion Blyde River.
Chegamos ao centro de visitantes do The Bourke´s Luck
Potholes (as cavidades de Bourkes Luck, o explorador de ouro), uma formação
geográfica muito peculiar formada por buracos arredondados, que por sua vez
foram causados pela força da água do rio que gerou a erosão das camadas de
quartzito presentes nas rochas.
Depois da visita prosseguimos rumo ao The Three Rondavels,
formações rochosas ao longo da Panorama Route, que lembram cabanas em forma de
colméia, formato utilizado pelos povos indígenas para construir suas casas. O
mirante estava a 1380m acima do nível do mar.
Chegou a hora do almoço. Descemos até
a cidade mais próxima e montamos a estrutura para almoçarmos. De repente do
interior de uma empresa saíram uns funcionários com uma bola de futebol e
começaram a brincar entre eles. Como eu não posso ver uma bola, logo me juntei
ao grupo e dei uma suadinha correndo enquanto os outros almoçavam. Senti que
meu preparo físico estava péssimo. Dei uma parada para comer quando todos já
tinham acabado. Foi bem divertido e mais uma vez senti como o futebol é um
esporte que facilita o relacionamento com as pessoas, mesmo que desconhecidas.
Ainda tínhamos muitos quilômetros pela frente.
Ao chegarmos ao aeroporto entreguei uma gorjeta para os
guias, me despedi dos companheiros do safári e desci junto com o casal de
australianos. Eles perguntaram o que eu achei do grupo.
Comentaram que acharam
que havia muitas “panelinhas” entre o grupo de alemães e de americanos.
Fiz o check-in e caminhei um pouco para conhecer o aeroporto
de Joanesburgo. Logo estaria em Port Elizabeth onde passaria por momentos
difíceis.
Cheguei ao aeroporto de Por Elizabeth (P.E) próximo às 22hs.
Assim que desembarquei fui buscar informações no balcão do aeroporto. Sem dar
explicações a atendente pediu para eu acompanha-la me levando para um ponto de
táxi. De repente os taxistas começaram a discutir entre si disputando a minha
corrida. Como eu não tinha muitas informações sobre onde seria a região mais
adequada para me hospedar resolvi voltar ao aeroporto para pegar informações
mais seguras. Não ficaria “na mão” dos taxistas.
Para mim ficou marcado este despreparo da atendente. Por
sorte, percebi que estavam fechando a única agência de viagens do aeroporto e
me apresentei à funcionária quando ela já fechava a porta.
Com um ar de alívio e ao mesmo tempo de preocupação pedi
ajuda a ela que fez questão de reabrir a agência e, conforme meu desejo,
procurou uma lista de albergues em uma região turística. Os taxistas estavam me
indicando a área central, mais perigosa.
Enquanto conversávamos um taxista que tinha me acompanhado
começou a dar palpite. Pedi para ele não se manifestar se tivesse intenção de
me levar. Tinha que manifestar firmeza nas decisões.
Depois de ligar para um estabelecimento que não tinha
disponibilidade conseguimos vaga no Kings Beach Backpackers (http://kingsbeachbackpackers.wozaonline.co.za/).
Agradeci muito ao auxílio da agente, que na verdade era de
uma instituição pública e pedi para que o taxista me levasse cobrando conforme
o taxímetro. O táxi era antigo, em mal estado de conservação.
O taxista era um
sujeito mau vestido e tinha cara de malandro. Mesmo assim, resolvi confiar
nele.
Trocamos uma ideia durante o caminho e fiquei com seu número
de celular para eventual necessidade. Mas a corrida não foi barata.
Fui recebido pelo gerente do hostel, um homem loiro e alto.
Entramos na casa e ele apresentou meu quarto que tinha dois beliches, mas que
estava vazio. Era um ambiente aconchegante com carpetes e muita madeira. No
banheiro o chuveiro era em cima de uma banheira que tinha cortina plástica.
Tomei um belo e merecido banho quente depois de uma longa viagem.
Vesti-me com uma camisa longa, troquei uma breve ideia com
David e mesmo cansado saí para explorar a área. Estava há duas quadras da praia
e as ruas eram escuras e desertas. Por isso, saí apenas com o essencial.
Dinheiro e documento. Deixei até meu relógio.
Percebi que havia algumas casas de fast food próximas a um
posto de gasolina e na praia vi um belo estabelecimento chamado Cabañas.
Resolvi entrar para conferir.
A decoração era linda. Um restaurante/bar temático sobre
Cuba. Fiquei à vontade e resolvi pedir uma draft
beer para enganar a fome enquanto escutava a música house misturada com
ritmos africanos.
Os frequentadores eram quase todos negros, super estilosos e
dançavam com muita personalidade.
Fiquei algum tempo encostado na barra do bar
fitando aquele ambiente totalmente novo.
Ao conversar com o garçon ele disse que o dia seguinte,
sexta-feira, seria ainda melhor. Mas disse que eu deveria ir de sapatos pois o
“sapatênis” que eu estava vestindo não era permitido.
Resolvi conversar com o gerente e pedir para que ele
permitisse que eu entrasse já que não tinha trazido sapatos do Brasil. Ele
disse que quando chegasse deveria procurá-lo que assim me liberaria.
Voltei para o hostel e entrei pela porta dos fundos, como
haviam me explicado.
Dia 5 – Port
Elizabeth – sexta-feira, 8 de novembro de 2013.
Estava acostumado a acordar cedo. Às 6:30 já estava tomando um café incluído na hospedagem. Pães tostados, com pasta de amendoim e café. Era o suficiente para começar o dia. Resolvi dar uma caminhada até o centro e não ir ao tour à township (favelas) sugerido por David que levaria alguns hóspedes.
Dei uma bela caminhada até o centro onde pude ver um pouco
da arquitetura local com forte influência inglesa. A cidade foi fundada pelos
ingleses em 1820 à margem da Baía de Algoa que disputavam o território com as
tribos Xhosas. O governador da Colônia do Cabo colocou o nome da cidade em homenagem a
sua esposa, Elizabeth. A cidade tem um dos maiores portos do país.
Pedi informações sobre como eu poderia chegar até um dos
estádios utilizados na Copa do Mundo, o Nelson Mandela Stadium. Peguei uma “lotação”
que era feita em van e me juntei aos moradores locais em um dia normal de
trabalho na cidade. Surpreendi-me com a qualidade do sistema de som presente na
van. Depois de alguns quilômetros indicaram que eu deveria descer e caminhar
umas três quadras até o estádio.
Como os portões estavam fechados descobri que a entrada para
visitantes era do lado oposto. Fui até lá e me informaram que a pessoa que
poderia me levar para conhecer o estádio estava participando de uma reunião e
assim só poderia me receber à tarde. Mas de qualquer maneira foi bom ir até lá
e ver a bela arquitetura com uma cobertura ondulada branca.
Resolvi voltar ao centro, e com fome, parei para comer num restaurante da
rede KFC. Notava que a concentração de negros no centro era maior. Havia muitos
indigentes e pessoas que evidentemente eram pobres.
Voltei ao hostel caminhando quando parei para ver as crianças em frente a um colégio vestidas com calça e gravata brincando. Fazia um sol gostoso e fiquei vendo a dinâmica das brincadeiras. Uns jogavam futebol, outros escalavam uma parede, alguns brincavam de luta e meninas de bricadeiras de mão com música do tipo “Adoletá”.
Prossegui minha caminhada, sempre precavido com a minha
câmera. Na praia vi alguns surfistas e havia um complexo aquático bem bonito
em frente ao Cubaña. Percebi que em uma loja havia bicicletas para aluguel e
achei uma boa ideia. Voltei para o hostel para deixar minha câmera profissional
e descansar um pouco esperando o sol baixar um pouco.
Voltei à loja por volta das 16hs e aluguei a bicicleta que
deveria ser devolvida até às 17:30. Resolvi ir a um dos pontos turísticos mais
famosos do local: o farol do Cabo Elizabeth. Segundo a locadora da bike era só
seguir a costa que eu veria as indicações de como chegar.
Comecei uma agradável pedalada pela orla da praia e à medida
que me distanciava eram mais escassas as construções e presença de pessoas.
Percebia que em plena sexta-feira pessoas paravam seus carros e preparavam seus
churrascos nos jardins à beira da praia. E à medida que ia contornando a costa
o vento passou a soprar contra mim. A bicicleta era simples e começou a ficar
mais difícil pedalar.
Continuei por alguns quilômetros em uma estrada de duplo
sentido. O silêncio só era quebrado pelo motor dos carros que se aproximavam e
se afastavam. Eu tinha que tomar cuidado, pois não havia acostamento. Já não via pessoas. Era vegetação para os dois lados e não eu conseguia ver a praia.
Avistei alguns trabalhadores caminhando em minha direção e perguntei onde
era o farol. Eles disseram que seria mais adiante.
Pedalei mais e já estava preocupado com o horário. Encontrei
mais uma pessoa no caminh que disse que eu já havia passado da entrada fazia
tempo. Então voltei e entrei no lugar
correto. Teria mais uma estradinha de uns 2 quilômetros. Forçando bastante a
pedalada cheguei ao local. Era um braço de terra que levava a um belo lugar
onde o vento era forte movendo grandes quantidades de areia.
Podia ver alguns
lobos marinhos e o farol era bem bonito. Como estava com o tempo esgotando tive
que voltar logo. Cheguei 5 minutos atrasado e temia levar uma bronca. Mas a
loja ainda estava em processo de fechamento. Apesar de não ter sido um passeio
calmo e agradável pelo menos tive a sensação de missão cumprida.
Parei para tomar um chá gelado e voltar para o Kings Beach
Backpacker onde cheguei em um estado
ideal para dar uma cochilada.
Ao acordar comi algo e logo fui para o Cubaña. Quando me
aproximei percebi que um rapaz discutia com os seguranças porque tinha sido
barrado por portar calçados inapropriados. Assim, percebi que o mesmo ocorreria
comigo caso tentasse entrar. Fiquei distante observando a situação quando de
repente ele veio em minha direção. Olhou para os meus pés e perguntou se o
mesmo tinha ocorrido comigo. E u disse que ainda não tinha tentado entrar.
Então ele disse que deveríamos subornar os seguranças. Eu
disse que não faria aquilo e para não tumultuar resolvi tomar uma cerveja em um
bar logo em frente, o Gondwana. Lá puxei conversa com um rapaz que era
sul-africano, porém turista. Eu disse que o Cubaña estaria bem legal e ele
gostou da recomendação.
Voltei para o lounge e avistei o chefe da segurança. Aquele
que eu tinha falado na noite anterior. Ele estava rodeado daqueles que pareciam
ser os donos do estabelecimento. Mais uma vez esperei com paciência e quando
ele passou por mim o cumprimentei discretamente. Um dos seguranças já tinha
encrencado com meu tênis.
Então ele apontou para mim dizendo a um dos funcionários para me
liberar. Ele chamou outra pessoa achando que não era eu o escolhido. Talvez por
eu ser branco. Ele corrigiu o engano e me colocou para dentro. Enfim entrei
naquele ambiente de pessoal cheio de estilo e boa música.
Encontrei com o rapaz do Gondwana que me apresentou seus
amigos. Ficamos conversando e dançando a noite inteira alongando a balada para
a casa de uma das meninas. Parte das pessoas falavam afrikans e eram muito
loucas!
A galera gostou de mim. Queriam que eu fosse para uma festa
no dia seguinte.
Dia 6 – Port
Elizabeth / Jeffrey´s Bay – sábado, 9 de novembro de 2013.
Acordei cedo pensando que fui dormir tarde.
Tomei café da manhã e percebi que uma pessoa entrou no
quintal do hostel. Ele me viu e pediu comida. Disse que chamaria o gerente para
ver se ele tinha. David saiu em direção a porta e começou a gritar com o rapaz
negro dizendo para ele sair dali antes que o agredisse. Fiquei impressionado!
Quando o ânimo acalmou resolvi conversar com o David sobre o
país, e o tempo em que ocorreu o apartheid. Ele me relatou coisas interessantes
sobre aqueles tempos e como no presente ainda sentia-se o clima de segregação
racial vinda das duas partes. Explicou um pouco da história da região e sobre o
líder Nelson Mandela. Era uma conversa muito interessante.
Então dois alemães que estavam hospedados apareceram pedindo
sugestões de passeios. Após nos conhecermos comentei que eu gostaria de
conhecer o estádio de cricket da cidade assim como a “pirâmide” localizada no
centro. Eles estavam de carro e aprovaram a ideia.
Chegamos ao centro e caminhamos até o Dolkin Reserve compostos por um memorial em forma de pirâmide e um
farol. O fundador da cidade, Sir Rufane
Donkin solicitou a construção do memorial em homenagem a sua esposa que se
chamava Elizabeth, conforme já explicado.
Tomamos um café e resolvemos ir até o forte Frederick na
parte alta da cidade. Enquanto um dos alemães, o Thomas, conseguia se comunicar
em inglês, o outro, Sven mal conseguia formar uma frase. Porém, isso não impedia
nossa comunicação. Estavamos contentes e, passeamos nos divertimos bastante.
Perguntei se eles gostariam de visitar um estádio de cricket
e eles toparam. Então pegamos o carro para irmos ao St. George´s Cricket Ground onde tiramos algumas fotos depois de
pararmos para comermos uma pizza.
Apesar de ficarmos pouco tempo juntos nos divertimos
bastante. Voltamos para o hostel, pois eu tinha planejado viajar para Jeffrey´s
Bay.
Arrumei a minha bagagem e no início da tarde um funcionário
do hostel me levou a um terminal de transporte onde inúmeras vans saiam para
diversas localidades dentro da cidade e para cidades vizinhas.
Ele se informou sobre qual seria a que iria para Jeffrey´s
Bay e como recompensa lhe dei uma boa gorjeta.
Coloquei minha bagagem dentro do veículo e fiquei aguardando
a saída que pelo que parecia só ocorreria quando estivesse lotado. Esperei
por cerca de uma hora e quando os últimos passageiros chegaram nos esprememos
junto com as malas.
Mais uma vez me impressionei com a qualidade do sistema de
som. Porém uma coisa que me intrigou foi que apesar da van estar com os vidros
fechados e sem ar condicionado as pessoas estavam vestidas com agasalhos e não
pareciam sentir calor. Resolvi não reclamar, pois não queria atrapalhar os
costumes locais.
Perguntei a senhora ao meu lado para saber se conhecia o
endereço que havia lhe mostrado. Eu tinha um guia de albergues e elegi um
chamado Island Vibe. A moça falou que sabia onde era e confirmou com o
motorista que pisava fundo no acelerador. Eu queria mesmo chegar rápido para
definir meu local de hospedagem antes do escurecer.
Assim, o motorista me apontou a esquina na qual eu deveria
descer e por qual caminho deveria seguir. Depois de andar umas três quadras,
cheguei a porta do Island Vibe e fui recebido por uma simpática recepcionista
que depois de fazer um tour para me apresentar o estabelecimento, me colocou em
um quarto de frente para a praia. O hostel ficava em um terreno elevado e tinha
uma linda vista.
Deixei minhas bagagens, guardei as coisas de valor trancadas
com cadeado no armário e saí para ver se tinha algo para comer. O jantar seria
servido às 19:30 e para aguardar resolvi experimentar uma cerveja Carling Black
Label. Observava o pessoal e via uma galera bonita, muitos surfistas jovens.
Conheci Ntsiko, o gerente do hostel, um rastafári para o
qual eu pedi umas dicas. Esperei o jantar preparado por uma cozinheira de mão
cheia. O prato era de carne, arroz e três feijões. Um prato do tamanho ideal!
Fiquei jogando uma sinuca e conheci o casal de brasileiros
Vitor e Laura, que moravam em Jeffreys havia alguns meses. Vitor trabalhava
como barman no próprio hostel e tinha recebido uma visita dos pais que foram
embora naquele mesmo dia deixando uma garrafa de cachaça. Ele estava animado
para fazer caipirinha para os gringos.
Ficamos trocando uma ideia e combinamos que iríamos para a
praia cedo no dia seguinte. Eu iria tirar umas fotos e ele iria surfar.
Era um sábado e o hostel estava cheio. Continuei jogando
sinuca, bebendo e conhecendo o pessoal como o local Chancy, que fez várias
parcerias na sinuca comigo.
Dia 7 – Jeffrey´s Bay
– domingo, 10 de novembro de 2013.
Apesar de ter bebido e aproveitado bem a noite, no horário combinado estava em frente ao Island Vibe esperando o Vitor. Passou alguns minutos e percebi que ele não apareceria. Como ele tinha comentado que morava bem perto do hostel saí para ver se descobria onde era sua casa.
Café da manhã especial |
Fomos para a praia e enquanto meu colega surfava saí para
dar uma caminhada e tirar umas fotos. Na semana anterior um surfista tinha sido
atacado por um tubarão numa outra área, mas próximo dali.
Vitor e Laura |
Voltei para a avenida principal para almoçar num restaurante grego chamado The Greak, onde a irmã de Chancy, com quem fiquei conversando na noite anterior, trabalhava. Comi um belo prato de peixe local a um preço razoável. As ruas estavam desertas e um ventinho frio me convidava para voltar ao hostel. Estava sempre preocupado com minha segurança e, por isso, evitava andar com minha carteira e pertences de valor.
Anoiteceu e voltei ao bar do hostel onde tudo acontecia.
Fiquei sabendo que tinha uma turma planejando ir para Knysna no dia seguinte de
carro. Conheci Brad, o motorista do carro que não deu certeza porém pediu para
que eu o procurasse no dia seguinte pela hora do almoço.
O hostel estava mais vazio. Algumas pessoas já tinham ido
embora. Voltei a jogar sinuca e depois de um tempo Chancy, querendo festa, me
perguntou:
- Você quer ir comigo numa festa?
Receoso eu perguntei onde era. Ele disse que na vila perto
dali. Olhei para ele e fiquei calculando os riscos. Perguntei se não era
perigoso e ele, dando um sorriso que emitia uma tranquilidade,
disse que como eu estava com ele nada me aconteceria.
disse que como eu estava com ele nada me aconteceria.
Como eu estava a fim de festa resolvi aceitar o convite.
Mais uma vez me preparei para levar somente o essencial, ou seja, dinheiro e
documento. Saímos do hotel por volta das 23hs a pé, na calada da noite e à
medida que caminhávamos escutávamos um som de música que vinha do alto de uma
região mais elevada. À medida que chegávamos mais próximos obviamente o som
ficava mais alto e a minha curiosidade aumentava.
Era uma quebrada parecida a de vários lugares do Brasil. Com
uma diferença muito grande! Estava na África do Sul, país onde ocorreu o famoso
Apartheid e eu não via nenhum branco.
Chancy me chamou para entrar na balada. Era um barracão
lotado e a medida que entrávamos notei que as pessoas me fitavam sem nenhuma
cerimônia. Fiquei um pouco incomodado com a situação, mas tentava ter
pensamentos positivos. Chancy me apresentou seus amigos que me cumprimentaram
calorosamente e olhavam para Chancy dando a entender que ele estava fazendo
algo legal. Eles se interessavam por mim e queriam conversar.
O som que tocava era frenético e totalmente dançante. As
pessoas dançavam e bebiam em garrafas de cerveja de um litro diretamente pelo
gargalo. O lugar estava lotado e além de muitos ficarem me olhando apareciam
uns que esbarravam em mim e parecia ser propositalmente. Eu não estava à
vontade.
Tinha chamado o Chancy para dizer que talvez devêssemos ir
embora quando uma moça me cutucou e começou a querer dançar comigo. Timidamente
comecei a balançar o corpo o que melhorou meu semblante. Ela me deu um sorriso
e me puxou pelo braço para um outro espaço da casa onde me apresentou seus
amigos. Estes me cumprimentaram novamente com grande satisfação e assim fiquei
realmente me sentindo melhor.
Voltei para perto de Chancy e os demais já não mais me
olhavam. Parecia que eu tinha sido aceito pela turma o que me fez refletir que
estava passando pela experiência mais autêntica até então vivida na África do
Sul.
Um senhor alto, mais velho que a média de idade das pessoas,
se aproximou de mim e me pediu para lhe comprar uma cerveja. Não hesitei em
comprar duas cervejas de litro e presenteá-lo. Brindamos e como pedia a
tradição tomei a cerveja local diretamente do gargalo.
Ficamos até o final da festa. No final uma moça meio bêbada
se aproximou de mim e perguntou.
- Hey, do you know that you are in the location?
Ela deu a entender que por eu ser branco eu não deveria
estar ali na “quebrada”, no “gueto”. Não precisei nem me defender. Os amigos de
Chancy disseram que ela estava falando besteira e que se era contra o racismo
que deixasse de ser racista.
Um deles pegou o carro, pois ainda queria festa. Porém, era
tarde e já não havia opções. Eles me levaram de volta ao hostel de maneira que
pudesse voltar em segurança. Aquela foi uma experiência incrível!
Dia 7 – Jeffrey´s Bay/Knysna
– segunda-feira, 11 de novembro de 2013.
Estava na pilha de aproveitar ao máximo. Por isso acordei cedo, às 6:30 para fazer minhas compras e definir como iria para o próximo destino. Esperei a loja abrir e fiz uma compra de vários artigos, incluindo bermudas, camisetas e tênis.
Encontrei o Ntsiko na rua e fomos à casa do Vítor para eu me
despedir. Encontramos também o Chancy e agradeci a todos por aqueles belos
momentos. Voltei ao hostel e encontrei o Brad que queria ir mesmo para Knysna,
porém seu amigo queria ficar com uma garota que tinha conhecido na noite
anterior. Ele topou em me levar. Logicamente dividiria os gastos da viagem.
Brad morava em Zanzibar, um conjunto de ilhas perto da
Tanzânia. Ele tinha uma caminhonete branca e também era um rastafári, loiro. As
estradas da África do Sul se mostravam realmente em perfeitas condições. E a
paisagem era maravilhosa. Montanhas ao fundo mostravam tonalidades distintas de
verde de acordo com a distância que estávamos.
De repente vimos uma placa que indicava que em alguns quilômetros teria um lugar para saltos de bungy jump. Resolvemos parar para conferir e descobrimos que aquele era o mais alto do mundo. Era montado numa ponte da própria estrada na qual estávamos transitando. O salto da Bloukrans Bridge é de 216ms de altura e tem uma estrutura de primeira em um local exuberante. Ficamos por ali uma meia hora observando as pessoas saltarem e a imensidão daquele vale.
Eu estava com receio de encarar a aventura e Brad estava sem
dinheiro para gastar. Por isso, resolvemos prosseguir nossa viagem.
Eu tirava inúmeras fotos e até Brad, nascido na África do
Sul, comentou sobre a beleza cênica das Garden
Route. Ao nos aproximarmos de Knysna fomos surpreendidos com um visual
alucinante. Era uma vasta planície alagada com alguns pedaços de terra e
construções em sua maioria brancas. Sem dúvidas me deparava com uma paisagem
que nunca havia visto nada similar.
Então, após aproximadamente 200 quilômetros chegamos em Knysna.
Por indicação do pessoal do Island Vibe de Jeffreys
ficaríamos em um hostel da rede com o mesmo nome. Assim, logo achamos o novo
local para hospedagem fazendo o check in em um dormitório compartilhado. E
assim que recebíamos a chave uma jovem com sotaque francês também deu entrada
no albergue.
Fomos ao nosso quarto para deixar nossas coisas e logo sair.
Brad precisava retirar dinheiro em um ATM
(caixa eletrônico) e logo sairíamos para conhecer a cidade. A moça que
havia chegado no hostel se hospedou no nosso quarto e assim descobrimos que era
um dormitório unissex.
Trocamos uma breve ideia e logo a convidamos para ir conosco
explorar a região. Conhecemos também Milo, que tinha cara de índio sul
americano. Na verdade era um músico boliviano que também tinha chegado à Knysna
há pouco e o chamamos para a caminhada.
Tudo estava perfeito. Chegar a um novo local e conhecer
pessoas tão rapidamente era realmente um momento de grande satisfação. Caminhamos
buscando indicações de um mapa que recebemos na recepção e logo estávamos na
marina local. Estávamos com fome e concordamos que o momento pedia um
restaurante de boa qualidade. Elegemos o “O Pescador”. Fiquei logo curioso para
conhecer um pouco mais sobre o lugar que
tinha um nome em português.
Cada um pediu um prato a
la carte. Alguns cerveja e eu decidi pedir um vinho. Pudemos nos conhecer
melhor. A francesa Manon vivia na Bélgica e estava viajando há cerca de um mês
e o Milo buscava ficar um tempo na cidade para trabalhar. Ele já tinha viajado
para o Brasil e falava comigo em português. Disse que ficou no Rio de Janeiro e
mostrava que conhecia toda a malandragem.
Conhecemos a dona do restaurante e comentou sobre a origem
do nome do restaurante que foi dado pelo seu marido português. Saímos realmente
satisfeitos e Brad combinou de se encontrar com uns amigos que moravam em
Zamzibar e também estavam viajando pelo país.
Fomos à um pub e pedimos cada um uma pint (que nada é mais do que um copo de 473ml) da cerveja local.
Percebi que Milo, que tinha seus quase 50 anos, se interessou pela jovem Manu.
Por isso resolvi ficar conversando com os outros.
Depois de umas duas pints
o bartender informou que o bar teria que fechar. Brad saiu com seus amigos
e eu, Milo e Manon fomos para um outro bar. Mas desta vez um bar menos
turístico e mais roots. Resolvemos
jogar sinuca entre nós e logo fomos convidados para jogar na mesa principal. E
aí o espírito Rui Chapéu, grande jogador brasileiro, tomou conta do taco que carregava.
Tivemos uma noite muito agradável. O dia seguinte seria
promissor!
Dia 8 – Knysna – terça-feira, 12 de novembro de 2013.
Acordamos relativamente cedo para tomar o café do próprio
hostel e planejar o que faríamos durante o dia. Brad me informou que seguiria
seu caminho para a Cidade do Cabo pois estava com pouco dinheiro e lá começaria
a dar aulas de kite surf. Lamentei sua ausência mas realmente não tinha o que
fazer.
Conhecemos uma moça alemã, chamada Tina que queria fazer alguma
atividade. Assim, achamos que uma boa opção seria alugar bicicletas. Descemos
com sentido ao centro e rapidamente encontramos uma ótima bicicletaria que
alugava boas bicicletas. Passamos uma
garantia no cartão de crédito e logo começamos a pedalar.
Nos informamos sobre para onde poderíamos ir e decidimos
explorar Knysna Heads. Assim,
margeamos a imensa lagoa em uma bela ciclovia desfrutando de um espetacular
visual e um sol ameno. Seguimos as placas e chegamos ao sopé do morro. Dali
começamos uma subida bem acentuada até o topo da Western Head, ou seja, da formação geológica que foi batizada de
cabeça ocidental. A oriental, logo em frente, não tinha acesso terrestre. Havia
apenas passeios de catamarã onde as embarcações deixavam a lagoa para entrar
numa espécie de garganta. Os penhascos tinham aproximadamente 200m de altura e
foram inúmeras as histórias de naufrágios naquele traiçoeiro lugar onde parece
que os heads “chefes” protegem o
lugar.
Após alguns minutos de contemplação descemos deixando a força da gravidade impulsionar a velocidade. Quase tomei um baita tombo ao tentar frear antes de passar por uma lombada. Minha roda de trás empinou e quase tomei um capote.
Chegamos à Leisure Island onde paramos em um lindo bistrô
para comermos algo. Era um lugar bem gostoso com vários habitantes locais de
idade mais avançada. Pedimos sanduíches com sucos de laranja e degustamos a
culinária local embaixo de belas árvores.
Como Tina tinha que voltar para ir embora nos depedimos
trocando informações pessoais. Eu e Manon
continuamos a pedalada e demos uma paradinha para tomar um sol a tempo
de chegar as 17hs para entregar as bikes.
Chegamos bem em cima do horário e ficamos na região da
marina olhando as lojinhas de souvenirs.
Voltamos para o hostel e cansado
resolvi dar uma cochilada.
Acordei lá pelas 22hs e reencontrei Milo. Fiz um macarrão
com queijo e baixei as fotos que havia feito até aquele momento.
Dia 9 – Knysna/
Wilderness / Oudtshoorn – quarta-feira,
13 de novembro de 2013.
Encontrei Manon e a perguntei sobre seu plano de viagem. Eu
tinha me informado que havia uma cidade muito interessante na área mais
interior chamada Oudtshoorn. Lá
havia umas cavernas e inúmeras fazendas de avestruzes.
Ela disse que topava ir ao local e disse que estava de
carro. Nossa, que sorte! Pensei...
Assim, arrumamos as malas e me despedi de Edward, o senhor
que gerenciava o hostel durante o dia.
Eu disse que poderia retornar ao local
no futuro e assim poderia revê-lo. Ele disse que estava cansado e que no
próximo ano se aposentaria.
Desejei-lhe boa sorte e parti ao lado da minha nova
companheira de viagem. Manon tinha alugado um carrinho simples e corajosamente
viajava sozinha pela África do Sul. À medida que a conhecia considerei que era
um pouco inconsequente e que agia sem muito conhecimento sobre a violência contra
as mulheres no país.
Seguimos pela principal rodovia do país, a N2 que liga que
inicia um pouco abaixo de Durban a vai até a Cidade do Cabo. Ou seja, ela
abrange duas das nove províncias sul africanas: Eastern Cape e Western Cape. Em
alguns momentos a estrada está muito próxima ao oceano em outros ficava mais
afastada.
À medida que viajava conhecia também um pouco mais sobre o
país que tem aproximadamente 50 milhões de habitantes e é uma democracia
parlamentarista com a eleição do seu primeiro presidente em 1994, Nelson
Mandela.
O caminho entre Knysna e Oudtshoorn tinha aproximadamente
120 km. Deixaríamos a N2 em Wilderness, pois rumaríamos em direção ao interior.
Já pelo horário do almoço decidimos conhecer a cidade de Wilderness. O nome do
local já despertava a curiosidade: “lugar selvagem”. Antes de parar fomos a um
belo mirante de onde se via um mar agitado, uma areia alaranjada que terminava
em um aclive onde se iniciava uma vegetação rasteira. E logo dois quarteirões
de belas casas. No meio da praia, havia um rio chamado Townsriver que fazia uma
curva para acompanhar a costa por um momento e logo serpenteava rumo ao
interior.
Voltamos ao carro para chegar ao centro da pequena cidade
onde entramos em um posto de informações turísticas para obter informações sobre os
atrativos da região.
Há poucos metros dali fomos a um pequeno restaurante de dois
andares com uma decoração bem harmoniosa com a natureza. Era o Flava Café. Fomos ao piso superior onde escutei um casal
conversando em português e por algum momento hesitei em falar com eles. Porém,
me apresentei e conversamos um pouco. O senhor era executivo de uma grande
mineradora brasileira que tinha atividade também em países africanos.
Comi um belo ceviche e de sobremesa um petit gateau. Nos
despedimos do casal e resolvemos ir ao “Mapa Africano”. Afinal, o que seria
aquilo?
Queria dar uma dirigida e pedi a Manon que me entregou a
chave do carro sem pestanejar. Seguimos as placas e nos perdemos um pouco, mas
finalmente subimos até o local almejado. Fomos recebidos por um senhor que
tomava conta dos carros e que começou a nos explicar sobre o local conduzindo-nos para um mirante. E então rapidamente percebemos que naquele ângulo
nitidamente o recorte do rio na planície fazia aparecer um formato muito similar
ao do continente africano.
Perto dali havia um outro mirante com vista alucinante. E na
grama fiquei impressionado ao ver um gafanhoto gigante. Descemos para pegarmos
um solzinho na praia e logo resolvemos tomar um lanchinho no Beejuice Café.
Manon contou um pouco da sua vida de enfermeira na Bélgica. Ela cuidava de
velhinhos e era uma moça muito paciente.
Voltamos ao Spark Lite, carro da Chevrolet, para passar pela
cidade de George e começar a subida para a cidade de Oudtshoorn. Mais uma
parada em um mirante para conferir a bela geografia.
Começou a fazer frio.
Após cerca de 60km chegamos à cidade e logo fomos buscar um
hostel. Rapidamente achamos o Paradise. Colocamos o carro na garagem e demos
check in. Informamo-nos sobre os passeios mais recomendados no local e depois
de nos acomodarmos resolvemos provar a especialidade da maioria dos
restaurantes locais: o avestruz
Saímos a pé e fomos a um dos mais próximos restaurantes, o
Flaming Ostrich. A cidade vazia parecia fantasma. Esperamos com fome a chegada
de belos bifes de avestruz cada um com suas guarnições.
Para quem nunca
experimentou vale a pena conferir a carne macia da ave.
Chegando ao hostel fiquei jogando sinuca com Vikus, o barmen
e o Juan, ambos sul africanos.
Dia 10 – Oudtshoorn
– quinta-feira, 14 de novembro de 2013.
Tínhamos definido que iríamos visitar alguma fazenda de
criação de avestruzes e visitaríamos a Cango Cave, que fica a 29km de
Oudtshoorn. Passamos por algumas fazendas com criações de avestruzes e mais
adiante por uma serra repleta de formações rochosa pontiagudas.
Chegamos ao destino e fomos comprar os ingressos. Havia dois
tipos de visitas: a “padrão” e a
“aventura”. Optamos pelo segundo.
Fiquei impressionado com a estrutura local que era muito bem
planejada e sinalizada, com condução de grupos em vários idiomas e saídas com
horários definidos.
Um guia bem simpático e engraçado se apresentou e começou a
explicar sobre as peculiaridades daquelas formações de calcário, formadas no
Período Pré-Cambriano. Iniciamos a entrada e logo vimos um belo salão com
formações de estalactites (que crescem de cima para baixo) e estalagmites (de
baixo para cima). À medida que nosso guia explicava e apontava para um
determinado ponto, as luzes eram acessas iluminando o local específico.
Em um momento o guia nos pediu para ficarmos em silêncio e
todas as luzes foram apagadas.
Sentíamos como era estar totalmente “isolados do
mundo”.
Continuamos a caminhar pelos túneis com subidas e descidas,
às vezes por escada. Então chegou o momento mais aventureiro que era passar por
pequenas fendas na rocha. Nosso guia perguntou em tom humorístico se alguém
queria desistir e se alguém tinha labirintite ou doença do pânico.
Começamos
lentamente, um a um a passar pelas estreitas passagens que ficavam cada vez
mais difíceis.
No final ficamos satisfeitos em superar o desafio e conhecer
o local. Cumprimentei o guia dizendo que sua atuação era muito boa e que de
fato fazia com que o passeio se tornasse ainda mais interessante. Fiquei
refletindo como eu poderia melhorar minhas atuações em trabalhos de guia de
turismo no Brasil.
Comprei na lojinha da
Cango Caves um CD comemorativo da banda sul africana Freshlyground e logo fomos
em direção ao próximo destino, uma fazenda de criação de avestruzes.
Chegamos a Safari Ostrich Show Farm e o tour guiado sairia
em cerca de uma hora. Era o tempo ideal para almoçar e dar uma descansada.
Depois de comer dei uma deitada na grama. Estava com uma dor nas costas que
incomodava há alguns dias. Fiz uma cara de dor quando um dos guias do parque
perguntou se estava tudo bem comigo.
Disse a ele que estava com aquele problema e ele se
aproximou perguntando onde estava doendo.
Ele disse que já exerceu a profissão de
massagista e com apenas uma mão, comigo em pé começou a massagear o local. Foi
incrível! Ele sabia o que estava fazendo o meu tour começou e eu acenei para a
Manon para seguir o grupo pois sentia que o meu problema estava sendo
solucionado.
Agradeci muito a boa vontade do guia e sua atenção para com
um desconhecido. Juntei-me ao grupo que recebia as primeiras informações sobre
o principal atrativo da fazenda: os avestruzes.
Logo embarcamos em uma pick up aberta para entrar na área de
criação. Vimos os ovos do animal e a grande resistência do mesmo. Podíamos
pisar que eles não se quebravam. Alimentamos alguns deles dando milho na mão e
quem quisesse podia dar uma voltinha no lombo do animal. Eu não pude pois tinha
peso superior ao permitido.
No final os monitores fizeram uma divertida corridinha
montados em avestruzes. Aquela era a última visita do dia.
Na volta demos uma parada em um estádio onde estavam
praticando criquet. Depois comprei uma sopa de saquinho no supermercado para
preparar no hostel, que comi acompanhada de pão e queijo.
Nesta noite fiquei jogando sinuca e conversando com o Vikus sobre
vários assuntos até altas horas.
Ele preparou vários drinks que havia inventado
e que fazem sucesso no seu bar. Dentre as várias histórias contou um pouco
sobre sua infância e a opção que fez em estudar em escola pública, mesmo que
sua família tivesse condições de lhe pagar uma escola particular.
E na escola comentou que ficava impressionado com a atitude
daqueles que mesmo tendo estudo gratuito não queriam estudar. Dizia que muitos
eram preguiçosos e não vislumbravam uma vida melhor.
Neste dia eu decidi estender minha viagem na áfrica do Sul
pois ainda tinha muito o que fazer por lá e se mantivesse o plano original não
poderia conhecer alguns lugares e teria que me apressar muito.
Dia 11 – Oudtshoorn /
Mossel Bay / Cape Agulhas – sexta-feira, 15 de novembro de 2013.
A companhia de Manon era muito legal! E para ela era
conveniente continuar viajando com o novo amigo. Assim, ela concordou em
conhecer o Cabo das Agulhas, distante quase 400 km.
Saímos pela manhã com o dia totalmente nublado. Descemos a
serra com destino ao litoral e resolvemos parar em Mossel Bay para conhecer o
local.
Paramos em um posto de gasolina para abastecer. Comecei a
conversar com os frentistas e comentei que era brasileiro começamos a falar
sobre futebol e eles se empolgaram ao falar sobre a seleção brasileira. Lembrei
que tinha no carro uma camisa do Brasil, do mesmo modelo que fomos campeões da
Copa das Confederações.
Peguei-a para darem uma olhada. Eles acharam muito bonita e queriam ficar com ela. Afinal, quem arrisca não petisca. Expliquei que aquela era a minha camisa da sorte e que a usaria na Copa do Mundo de 2014. Eles entenderam o valor da amarelinha!
Ventava muito enquanto dávamos uma volta de carro pela
cidade. Resolvemos então dar uma parada para almoçarmos o que tinha de melhor
no local, os frutos do mar.
Num restaurante em frente ao mar víamos o mar revolto
batendo nas pedras do cais. Segui a recomendação do garçom e pedi um butterfish, peixe encontrado no local. A
comida do Kings Fisher era muito boa e farta.
Assim, voltamos ao carro para continuar a longa viagem. Em Swellendam
deixamos a N2 para virarmos a esquerda para pegar a R319 para rumarmos ao sul.
A estrada era uma via muito reta e a paisagem bem colorida contrastava com o
clima chuvoso.
Vimos várias ovelhas no caminho e paramos para tirar fotos.
A área é parte do Parque Nacional Agulhas.
Ventava muito e o carrinho alugado
sentia a resistência do vento contrário.
Após algumas
horas de viagem chegamos ao Cape Agulhas Backpacker. Foi ótimo chegar ao local
que tem uma linda decoração e poder tomar um banho quente.
Já estava
quase anoitecendo e não dava tempo para conhecermos o Cabo da Agulhas. Era
momento de descansar e fazer uma sopa para vencer o frio.
O hostel era
super aconchegante. Tinha uma decoração marcante com cores fortes e uma
fogueira. A chuva e o vento aumentaram valorizando ainda mais nossa aventura do
dia seguinte.
Dia 12 – Cape Agulhas
/ Stellenbosh – sábado, 16 de novembro de 2013.
Arrumei minha
bagagem para que já estivesse pronta no momento que voltássemos do Cabo das
Agulhas. A experiência de dormir naquele hostel com o vento e a chuva que fazia
foi marcante.
O café da
manhã do hostel era “a la carte”. Havia várias opções saudáveis. Pedi uma que
vinha com iogurte, cereais e frutas.
Na sala de
recepção havia um periquito azul solto que estava acostumado com o contato com
pessoas. Ele estava solto e andava pelo braço das pessoas. Chegou a bicar
levemente meu pé e eu caí na gargalhada.
Era a hora de
encararmos o clima adverso para conhecermos o famoso cabo. Percorremos cerca de
8 quilômetros e ainda ventava bastante. A chuva forte deu uma pequena trégua.
Parecia que nos dava a chance de conhecer o local.
Estacionamos
o carro e caminhamos pela estrutura de madeira até avistarmos uma placa que
explicava um pouco sobre a importância do local e seu ecossistema.
Ali estava a
junção dos oceanos Índico e Atlântico. Do leste vinha uma corrente marítima
quente chamada de Agulhas. E do oeste, uma corrente lenta e fria, chamada
Benguela. Assim, com esse encontro na região mais extrema ao sul do continente
africana via-se uma sucessão de peculiaridades.
As condições climáticas mudam
constantemente tornando o local difícil de navegar.
O nome do
local foi dado pelos descobridores portugueses. Não podia deixa de tirar uma
foto no monumento que simboliza a divisão das águas. Ainda que a chuva tivesse
dado uma trégua o vento era forte e por isso não dava para ficar
contemplando o local por muito tempo.
Voltamos ao hostel para pegarmos as bagagens, tomarmos a
mesma sopa da noite passada e prosseguirmos com destino a Stellenbosh, distante
cerca de 200 km.
Ainda chovia, porém durante o percurso o tempo melhorou e o
sol apareceu. Chegamos ao belo centro da cidade e paramos para tomar um café e
buscar maiores informações sobre possibilidades de hospedagem.
Descobrimos o Travellers Bachpackers e ficamos por lá. Fomos
atendidos pela Margareth, uma simpática senhora. Aproveitei o computador do
hostel para baixar minhas fotos e para passar fotos para a Manon. Seria a
última cidade a visitarmos juntos, pois ela não queria ir para a Cidade do Cabo
tão cedo, já que tinha ainda muitos dias até terminar sua viagem.
Na cozinha do hostel conheci Barry, um homem de meia idade
que estava morando no hostel provisoriamente. Ele me contou um pouco sobre sua
história. Viveu por muitos anos nos Estados Unidos onde de uma hora para a
outra perdeu tudo o que tinha devido a um processo trabalhista que travou com
uma empresa e acabou perdendo.
Segundo ele tudo se deveu ao seu posicionamento político,
que nos Estados Unidos, é muito demarcado entre republicanos e democratas.
Barry estava tentando arrumar seu antigo carro mas estava com um grande
problema financeiro. Sua auto estima estava muito abalada e eu percebia uma
revolta muito grande quando falava sobre o que tinha ocorrido.
Trocamos uma ideia por horas e quando deu a fome resolvi
sair para comer. Acabei indo a rede KFC comer frango.
Como era sábado à noite a cidade estava agitada. No entanto
apesar de ter voltade de curtir uma balada eu estava cansado. Por isso resolvi
dormir já que o mais importante viria no dia seguinte: a visitação a algum
vinhedo da região.
Dia 13 – Stellenbosh
/ Cidade do Cabo – domingo, 17 de novembro de 2013.
Tomamos o café da manhã do hostel e pela indicação da
Margareth optamos por visitar Wredemheim. Vi que Barry estava sem planos para o
dia e pensei que seria legal convidá-lo para passar conosco um dia agradável.
Ele aceitou e sabia o caminho para chegarmos ao destino que
estava relativamente próximo.
Passamos pelo portal do complexo e estacionamos o
carro. O dia estava lindo e a entrada se dava por uma casa branca com um
imponente portão.
Apesar do horário, não poderíamos deixar de fazer uma
degustação de vinhos enquanto aguardávamos o horário no qual acompanharíamos a
alimentação dos felinos, uma das atrações do local.
A atendente explicava um pouco sobre os vinhos à medida que
íamos bebendo. Elegemos o pinotage como
a melhor vinho. Esta é uma mistura de uvas pinot noir e da cinsault. Um vinho
amplamente produzido na África do Sul.
Comprei uma garrafa deste vinho para continuarmos bebendo
durante o passeio. Fomos até a área onde estavam as jaulas. Vimos uma família
de leões descansando ao sol. E na jaulas ao lado, uma leoa separada de um leão
ambos albinos, uma espécie rara. E foi bem legal quando o tratador lhes jogou
uma galinha inteira para cada um para que fossem abocanhadas ainda no ar.
Vimos um belo lince, um guepardo e dois belos tigres que brincavam
em uma piscina. Os animais eram bem cuidados e foi divertido vê-los mesmo que
em cativeiro.
Era a hora do almoço e aproveitamos o restaurante local para
comer e terminar com a garrafa de vinho. Eu estava atento no horário já que
voltaria para o hostel para pegar as minhas coisas e ir de trem para a Cidade
do Cabo.
Deixamos a fazenda e todo aquele clima bucólico para trás.
Presenteei Margareth com uma garrafa de vinho, despedi-me de Barry, que sem
dúvidas teve um dia bem legal, e da minha grande companheira de viagem, a
Manon.
Naquele momento voltaria a estar sozinho na viagem. Barry me
auxiliou com a compra dos bilhetes de primeira classe e acenei para os meus
colegas sabendo que dificilmente os voltaria a vê-los.
Entrei no trem e me assustei ao ver um vagão sujo, com
líquido escorrendo pelo chão. Estava com bastante bagagem e de certa maneira
atento para evitar alguma situação de risco de furto ou roubo.
Em uma das paradas entrou um rapaz que se sentou ao meu
lado. Começamos a conversar e ele disse que trabalhava para uma rede de
televisão e que participaria da Copa do Mundo de futebol no Brasil.
Disse a Tshepo que eu iria para a Cidade do Cabo e ele disse
que podia entrar em contato com seu amigo, que trabalhava na companhia aérea
South Africa, e que poderia me ajudar a encontrar um lugar para me hospedar.
Ele ligou para Mxoli que estava disponível e lhe informou o horário previsto de
chegada daquele trem que estávamos.
Tshepo tinha que descer para fazer baldeação. Deixei um
cartão de visitas com ele e ele disse que se desse me encontraria no dia
seguinte.
Quando me aproximava do terminal da Cidade do Cabo pude ver
as imensa parede rochosa, cartão postal da cidade. Desembarquei e fiquei
aguardando o rapaz aparecer. Fiquei um pouco inseguro, pois era domingo, estava
escurecendo a estação estava bem vazia e ainda não sabia aonde iria me
hospedar.
Apareceu um rapaz branco estudante e disse que não estava
conseguindo passar seu cartão de transporte. Ele era estrangeiro e disse que
estava preocupado, pois não conseguiria outra maneira de transporte se não o
trem. Dei a ele o valor da passagem.
Depois de alguns minutos o Mxoli apareceu. Muito simpático
ele perguntou se poderíamos ir caminhando. Eu perguntei se seria seguro e ele
disse para eu não me preocupar. No caminho ele comentou que precisava caminhar
para arejar a cabeça pois tinha brigado com sua namorada.
Chegamos a um bairro turístico, o Green Point e a grande lua
cheia parecia me dar boas vindas.
Resolvi ficar logo no segundo hotel que
visitamos, o All Seasons. Era um hotel bem simples no qual fiquei com um quarto
exclusivo. Tinha televisão e uma cama de casal que depois de um tempo percebi
ser muito ruim, pois o colchão era muito mole e fazia uma curva que acabou
destruindo minhas costas.
Deixei meus pertences e saímos para tomar uma cerveja. Por
coincidência havia um bar Cubaña, mesmo nome daquele de Port Elizabeth. Tinha o
mesmo padrão de decoração, de estilo de música e perfil de clientes.
Tivemos uma noite de bate papo acompanhados de boa música e
muita gente simpática. Já estava gostando do lugar.
Mxoli acabou dormindo no sofá do meu quarto.
Dia 14 – Cidade do
Cabo –
segunda-feira, 18 de novembro de 2013.
Mais uma vez a ideia era acordar cedo para aproveitar ao
máximo o dia. Combinei com o Mxoli de nos encontrarmos no próprio Cubaña. Ali
tomamos um café da manhã. Utilizei a rede de internet para entrar em contato
com meus colegas alemães por celular. Sabia que eles deveriam estar de volta à
cidade depois de uma longa viagem de carro.
Eles estavam de volta e resolveram nos encontrar. Tshepo
também chegou e contou que tinha sido roubado. Tinham levado seu notebook assim
que tinha desembarcado do trem no qual nos conhecemos. Ele tinha que entregar
um relatório para um projeto e estava muito angustiado. Acabei ajudando-o a
comprar um notebook usado.
Sven e Thomas chegaram e decidimos ir à praia. Mais
precisamente para Camps Bay. Estávamos muito satisfeitos em nos reencontrar e
Mxoli logo fez amizade com eles. Fiquei encantado com o caminho que nos levou à
praia. Os paredões rochosos são extensos e parecem uma onda gigante em
formação.
O sol estava forte! Estacionamos o carro e nos preparamos
passando protetor solar. Chegando à praia via-se um mar agitado com o vento sobrando
contra as ondas elevando a água e proporcionando um belo visual.
Começamos a bater uma bola naquele calor. Os alemães mostraram habilidade. Já, nosso amigo sul-africano nos fez rir bastante.
Foi impressionante sentir o frio da água marinha. Chegava a
arder! Nos divertíamos como crianças e logo ficamos com fome. Na avenida
beira-mar havia diversos restaurantes. Era um belo point cheio de gente bonita. A maioria pediu peixe com fritas.
Voltamos à praia e ao ver uma tenda onde faziam massagens
não resisti. Adoro massagens e sempre que viajo gosto de aproveitar novas
oportunidades. O preço era justo e a massagista muito boa.
Demos mais uma caminhada e voltamos para o Green Point.
Mxoli voltou comigo para o hotel porque iríamos fazer uma baladinha à noite. Me
despedi dos alemães sem saber que aquele era o último momento que estaríamos
juntos.
Demos uma cochilada e eu comecei a me arrepender de ter
escolhido aquele hotel com a cama péssima. Estava bem dolorido pelas atividades
acumuladas nos vários dias de viagem.
Resolvemos ir à pé à famosa Long Street. Ao passar por um
hotel luxuoso, Mxoli comentou que tinha uns vouchers de hospedagem gratuitos.
Disse que no dia seguinte tentaria ver se conseguiria uma noite de hospedagem
para mim.
Começamos nossa
diversão noturna jogando um bilhar. Logo, fomos a outro bar e assim,
sucessivamente fazendo um by night
completo. Conheci uma família de angolanos e um grupo de ingleses que bebiam
muito.
No final ainda fomos ao Cubaña. Mas como era segunda-feira a
noite não estava tão agitada.
Despedi-me de Mxoli que voltou para a sua casa. Nos
encontraríamos no dia seguinte. Faltava eu subir a Table Mountain e fazer
algumas comprinhas.
Dia 15 – Cidade do
Cabo – terça-feira, 19 de novembro de 2013.
Fui tomar um café da manhã perto do hotel. Recebi uma
mensagem de Mxoli dizendo que conseguiu fazer a reserva no luxuoso Taj. Quase
não conseguia acreditar.
Arrumei minha bagagem, encontrei com Mxoli e pegamos um taxi
até o hotel. Lá me encontrei com Tshepo. Ainda não era hora do check in, então
o supervisor da recepção sugeriu que deixássemos nossas coisas guardadas já que
queríamos fazer algumas coisas pela cidade.
Mxoli tinha que resolver algumas questões e combinou de nos
encontrar no final da tarde. Caminhei com Tshepo até uma feira de artesanato
onde comprei uns imãs de geladeira e uma bolsa com motivos africanos. Queria
conhecer tudo o que fosse possível naquele último dia antes da viagem de volta
ao Brasil. E uma boa alternativa era o ônibus Sigthseeing que fazia dois diferentes percursos pelos principais
atrativos turísticos da cidade.
Compramos os ingressos em uma livraria e logo embarcamos no
ônibus vermelho. Recebemos fones de ouvidos para conectá-los ao sistema de som
com explicações em vários idiomas. Decidimos fazer a primeira parada no Castelo
da boa esperança (Castle of the Hope) que tem o formato de uma estrela e foi
construído no século XVII sendo a mais antiga construção do tempo colonial no
país.
Tiramos algumas fotos e logo aguardamos a passagem de outro
ônibus para irmos ao principal atrativo do dia: a Table Mountain – “A Maravilha Africana”. Subimos pela montanha até
o início do complexo que lembra o Corcovado no Rio de Janeiro. Como o ingresso
era caro e o Tshepo já conhecia o local ele ficou me aguardando. Comprei o
ticket e enquanto que aguardava o teleférico percebi que ele subia bem rápido.
Embarquei no meio de inúmeros turistas que disputavam um bom lugar para tirar
fotos.
Enquanto subíamos muitas nuvens atrapalhavam nossa vista,
mas quando estávamos mais altos conseguíamos ver alguma coisa. Já no topo da
montanha a temperatura era bem mais baixa. Dei uma caminhada e consegui
observar o estádio do Green Point, a praia de Camps Bay, que tínhamos ido ao
dia anterior e percebi a chegada de inúmeras pessoas que tinham subido pelas
trilhas. Não tive tempo de fazer o percurso a pé.
Percebi mais uma vez a beleza cenográfica da Cidade do Cabo.
Já estava muito satisfeito com o que tinha visto. Resolvi descer para continuar
o percurso. Decidimos prosseguir nosso passeio de ônibus e fazer a última
parada no Green Point para visitar o estádio que foi utilizado na copa de 2010.
No percurso passamos por diversas praias e dentre elas a
Camps Bay. O Tshepo chegou a dar uma cochilada, pois estava cansado. No estádio
havia uma visita monitorada e estávamos em cima da hora. Desembarcamos do
ônibus e sem perder tempo descobrimos para qual era o portão que deveríamos nos
direcionar.
Estávamos atrasados alguns minutos e demos sorte em
aceitarem que nos juntássemos ao grupo de turistas de várias nacionalidades.
Este estádio também sediou jogos do campeonato mundial de rugby, em 1995. A
história deste campeonato é retratada no filme "Invictus". A África do Sul
sagrou-se campeã e o título foi entregue ao capitão do time François Pienaar
pelo presidente Nelson Mandela, pouco tempo depois do fim do apartheid. Era um
momento histórico muito significativo.
O tour no estádio foi muito agradável. Visitamos a beira do
campo, vestiários etc. Então voltamos ao centro bem no finalzinho da tarde.
Tinha pouco tempo para fazer algumas compras. Fui à outra feira de artesanatos
e comecei a negociar com os vendedores artigos para decoração e roupas.
Encontrei-me novamente com Tshepo e Mxoli para que eu
pudesse finalmente dar o check in no quarto do hotel. E quando cheguei lá não
podia acreditar. Era sem dúvidas o melhor quarto de hotel em que me hospedei.
Puro luxo!
Logo um amigo deles
se juntou a nós. Tomei um banho merecido e ficamos curtindo todo o conforto do quarto. Chegou um amigo dos dois que colocou música em seu notebook.
se juntou a nós. Tomei um banho merecido e ficamos curtindo todo o conforto do quarto. Chegou um amigo dos dois que colocou música em seu notebook.
Já era hora de jantar. Tínhamos dois vouchers para o
restaurante do próprio hotel. Como o amigo deles tinha um compromisso nos três
aproveitamos a oportunidade de degustarmos uma boa comida acompanhada de um
vinho branco. A sensação de satisfação era enorme. Quase não podia acreditar
que depois de tantas aventuras e de ter dormido em barraca ou em cama ruim
poderia desfrutar dos serviços de um hotel de luxo.
Falamos sobre a possibilidade de desenvolvermos um négocio
relacionado a turismo que fomentasse o fluxo de brasileiros para a África do
Sul e vice-versa. Eles ficaram muito animados com a ideia.
Como na noite anterior fomos à Long Street. Paramos em um
bar onde estava sendo transmitida a partida amistosa de futebol entre a África
do Sul e a poderosa Espanha. Surpreendentemente a África do Sul venceu por 1 a
0 e as pessoas estavam muito animadas. Eu estava com cansaço acumulado de
muitos dias de passeios onde a vontade de conhecer o país estava acima de tudo.
Despedi-me de Mxoli que foi meu principal guia na África do
Sul e o Tshepo foi dormir no hotel porque morava longe e não teria dinheiro
para o táxi.
Dia 16 – Cidade do
Cabo / São Paulo – quarta-feira, 20 de novembro de 2013.
Tive que despertar bem cedo e já tinha agendado o transporte
ao aeroporto com um amigo de Tshepo que cobrou mais barato do que um táxi.
Pedi um café da manhã continental que comi no próprio quarto
enquanto Tshepo despertava.
Juntei minhas coisas e resolvi levar um livro que ficava no
quarto com várias fotos e as histórias do líder Nelson Mandela. Fiz o check out
e junto com Tshepo entramos no carro. Ele ficou pelo caminho para pegar um trem
de volta para a casa.
No avião conheci uma moça que trabalhava como voluntária em
projetos sociais que estava voltando de Moçambique ao Brasil para fugir da
situação ameaçadora de uma nova guerra civil.
Voltei para o Brasil muito satisfeito com a viagem e com a
sensação de que viveria tranquilamente na África do Sul. O país ainda busca uma
estabilidade social e econômica, mas que, a meu ver, é muito promissor. Percebi
a variedade cultural existente no país e a alegria do seu povo. Toda a
expectativa da viagem foi bem correspondida.