Nem todo o brasileiro gosta de futebol. Mas certamente todos
nós sabemos sobre a importância que o esporte tem na nossa sociedade.
Inicialmente jogado por trabalhadores das ferrovias inglesas ou por tripulantes
de navios, ele foi oficialmente introduzido no Brasil por Charles Muller. O
futebol ganhou notoriedade, tornou-se o esporte nacional e o mais popular em
todo o mundo.
Como guia de turismo acredito que o Museu do Futebol em São
Paulo é o melhor lugar para explorar essa bela história e entender a sua
importância. É um local que desconstrói a imagem que podemos ter de um museu pela
maneira como é elaborado e gerido. Montado dentro do histórico estádio do
Pacaembu, ele possui exposições temporárias com temas interessantes e
conectados com a atualidade. Trabalha recursos tecnológicos de multimídia, com
interatividade, e acima de tudo, estimula o visitante a estar em contato com as
emoções propiciadas pelo futebol. As emoções dos jogadores e de outros
profissionais que trabalham com o esporte, mas também as dos torcedores e dos
praticantes do futebol, aguçando suas memórias afetivas.
Minhas memórias afetivas
Em uma das fotos mais antigas que
tenho estou no jardim da praia de Santos, ainda criança, com uma Logo comecei a brincar nas areias da praia
onde cresci jogando futebol. No ambiente praiano as condições climáticas ditam
a condição do futebol. Maré, umidade da areia, velocidade do vento e a
intensidade do sol fazem cada brincadeira ser única.
bola azul que
tinha a imagem de um patinho. Tive aquela bola por muitos anos.
Ainda quando pequeno, na ausência da “redonda”, a bola, a
criatividade era a maior aliada para aqueles que queriam “jogar futebol”.
Tampinhas de garrafa, latinhas, meias, papel, durex, eram exemplos de matéria
prima para a confecção da “bola”. E o jogo tomava novas formas como a “malha”,
o “três dentro e três fora”, o “lelezinho” e a “rebatida”. Em Santos, durante a
adolescência, criamos o “tablado” similar ao futevôlei, mas em campo reduzido,
com uma rede mais baixa e com a possibilidade de a bola tocar no chão. Meus
amigos se orgulham por termos criado essa brincadeira difundida a partir da
praia do Embaré, onde está o CPE (Centro de Paquera do Embaré), muito
frequentado por nós.
Já fui torcedor do Santos e carrego um enorme carinho pelo
time. Mas apesar de ter competido jogando futebol de salão pelo clube e de ter
conhecido o Pelé, antes de um jogo em plena Vila Belmiro, acabei “virando
casaca”, encantado com o futebol que o São Paulo F. C. mostrava no início da
década de 90, quando o técnico Telê Santana comandava um time sensacional.
Meu tio Careca, nascido em Santos, foi jogador do extinto
Colorado de Curitiba e do Palmeiras, na época do grande Ademir Da Guia. E meu
pai foi jornalista, acompanhando o Santos F. C. em jogos amistosos nos Estados
Unidos e no Canadá.
Essa paixão e conhecimento sobre o futebol me aproximou do
esporte profissionalmente. Não como
jogador, e olha que muitos diziam que eu
teria futuro, mas de outras maneiras.
Trabalhando com o futebol
Dois anos antes da Copa do Mundo de 2014 já buscava essa
oportunidade e ingressei em uma empresa credenciada como vendedora exclusiva
pela FIFA dos ingressos de camarotes. Eu visitava representantes de grandes
empresas difundindo a ideia de que ao adquirir o acesso ao grande evento
mundial do ano a empresa estaria adquirindo, também, uma grande oportunidade de
promover o marketing de relacionamento, tanto com os seus clientes, como com os
fornecedores e com os seus colaboradores. Essa foi uma das minhas experiências
relacionadas ao turismo e vestido de terno e gravata. Tipo, um “executivo do
futebol”.
Mas melhor ainda foi me afastar da empresa e ver que poderia
voltar a atuar como guia de turismo e vivenciar o evento de outra maneira. A
grande dificuldade estaria em atuar como guia em São Paulo, pois não tinha
experiência na capital. As oportunidades apareceram e foram diversas, desde
apenas levar turistas até os jogos no “Itaquerão”, como fazer city tours em São
Paulo e levar um grupo de holandeses para o Rio de Janeiro, onde ficamos
acampados na região do Recreio para que pudessem assistir a um jogo no dia
seguinte no Maracanã.
Terminada a Copa do Mundo tive a oportunidade de levar
turistas ao já citado Museu do Futebol e ao maior estádio privado do Brasil, o
Morumbi, o estádio do amado Tricolor.
E nas minhas andanças pelo mundo, as vezes a trabalho,
outras a lazer, pude conhecer outros estádios em visitas monitoradas como o
Camp Nou, em Barcelona, o Karaiskákis,
em Pireus (Grécia), o Green Point, na Cidade do Cabo (África do Sul) e o
Centenário, em Montevidéo. E fui a jogos nos estádios, Garcilaso, em Cusco, no
Atanasio Girardot, em Medelin, no Alejandro
Serrano Aguilar, em Cuenca e no famoso La Bombonera, em Buenos
Aires, cujo museu também é ótimo.
Devido a minha relação com Santos e a maravilhosa história
do clube que é conhecido mundialmente pelas conquistas da Era Pelé, busquei uma
aproximação e viabilizei entre outras experiências, através da minha agência de
viagens, a ida de torcedores a partir de São Paulo para assistir aos jogos do
Peixe pela Copa Libertadores da América. “Descíamos a serra”, promovendo
conversas, brincadeiras e sorteios durante o trajeto. Voltei a torcer pelo
Santos naqueles momentos!
Aproveitando essa identificação com o futebol criei o
programa Futebol Total, em São Paulo, o Santos do Futebol e o Rota Pelé, o Rei
do Futebol.
E contratado como guia de turismo levei pessoas para jogos
de futebol. Já fui ver o Palmeiras, o Corinthians, já fui com estudantes
americanos no grande clássico Fla x Flu, em um belo domingo no Maracanã e em uma
final de Campeonato Paulista do próprio Santos.
Independentemente do time que torcemos, como guias de
turismo, temos que ser como os jogadores de futebol: vestir a camisa com
determinação e “entrar em campo” para proporcionar um bom espetáculo.
Enfim, acho importante que o guia de turismo se identifique
e conheça bem o conteúdo daquilo que transmite aos seus clientes. Mesmo quando
um turista estrangeiro não acompanha o futebol, eu o convido para conhecer um
pouco mais sobre o esporte que é tão presente na nossa cultura.
Afinal, é fascinante a história que mostra o futebol como um
esporte inicialmente praticado pela elite branca e que passou a ser um esporte
das massas, onde um negro chamado Pelé se tornou a maior expressão deste
encanto.