sexta-feira, 12 de junho de 2020

A Nossa Cultura Futebolística





Nem todo o brasileiro gosta de futebol. Mas certamente todos nós sabemos sobre a importância que o esporte tem na nossa sociedade. Inicialmente jogado por trabalhadores das ferrovias inglesas ou por tripulantes de navios, ele foi oficialmente introduzido no Brasil por Charles Muller. O futebol ganhou notoriedade, tornou-se o esporte nacional e o mais popular em todo o mundo.

Como guia de turismo acredito que o Museu do Futebol em São Paulo é o melhor lugar para explorar essa bela história e entender a sua importância. É um local que desconstrói a imagem que podemos ter de um museu pela maneira como é elaborado e gerido. Montado dentro do histórico estádio do Pacaembu, ele possui exposições temporárias com temas interessantes e conectados com a atualidade. Trabalha recursos tecnológicos de multimídia, com interatividade, e acima de tudo, estimula o visitante a estar em contato com as emoções propiciadas pelo futebol. As emoções dos jogadores e de outros profissionais que trabalham com o esporte, mas também as dos torcedores e dos praticantes do futebol, aguçando suas memórias afetivas.

 
Minhas memórias afetivas

Em uma das fotos mais antigas que tenho estou no jardim da praia de Santos, ainda criança, com uma   Logo comecei a brincar nas areias da praia onde cresci jogando futebol. No ambiente praiano as condições climáticas ditam a condição do futebol. Maré, umidade da areia, velocidade do vento e a intensidade do sol fazem cada brincadeira ser única.
bola azul que tinha a imagem de um patinho. Tive aquela bola por muitos anos.

Ainda quando pequeno, na ausência da “redonda”, a bola, a criatividade era a maior aliada para aqueles que queriam “jogar futebol”. Tampinhas de garrafa, latinhas, meias, papel, durex, eram exemplos de matéria prima para a confecção da “bola”. E o jogo tomava novas formas como a “malha”, o “três dentro e três fora”, o “lelezinho” e a “rebatida”. Em Santos, durante a adolescência, criamos o “tablado” similar ao futevôlei, mas em campo reduzido, com uma rede mais baixa e com a possibilidade de a bola tocar no chão. Meus amigos se orgulham por termos criado essa brincadeira difundida a partir da praia do Embaré, onde está o CPE (Centro de Paquera do Embaré), muito frequentado por nós.

Já fui torcedor do Santos e carrego um enorme carinho pelo time. Mas apesar de ter competido jogando futebol de salão pelo clube e de ter conhecido o Pelé, antes de um jogo em plena Vila Belmiro, acabei “virando casaca”, encantado com o futebol que o São Paulo F. C. mostrava no início da década de 90, quando o técnico Telê Santana comandava um time sensacional.
Meu tio Careca, nascido em Santos, foi jogador do extinto Colorado de Curitiba e do Palmeiras, na época do grande Ademir Da Guia. E meu pai foi jornalista, acompanhando o Santos F. C. em jogos amistosos nos Estados Unidos e no Canadá.


Essa paixão e conhecimento sobre o futebol me aproximou do esporte profissionalmente. Não como
jogador, e olha que muitos diziam que eu teria futuro, mas de outras maneiras.


Trabalhando com o futebol

Dois anos antes da Copa do Mundo de 2014 já buscava essa oportunidade e ingressei em uma empresa credenciada como vendedora exclusiva pela FIFA dos ingressos de camarotes. Eu visitava representantes de grandes empresas difundindo a ideia de que ao adquirir o acesso ao grande evento mundial do ano a empresa estaria adquirindo, também, uma grande oportunidade de promover o marketing de relacionamento, tanto com os seus clientes, como com os fornecedores e com os seus colaboradores. Essa foi uma das minhas experiências relacionadas ao turismo e vestido de terno e gravata. Tipo, um “executivo do futebol”.


Mas melhor ainda foi me afastar da empresa e ver que poderia voltar a atuar como guia de turismo e vivenciar o evento de outra maneira. A grande dificuldade estaria em atuar como guia em São Paulo, pois não tinha experiência na capital. As oportunidades apareceram e foram diversas, desde apenas levar turistas até os jogos no “Itaquerão”, como fazer city tours em São Paulo e levar um grupo de holandeses para o Rio de Janeiro, onde ficamos acampados na região do Recreio para que pudessem assistir a um jogo no dia seguinte no Maracanã.

Terminada a Copa do Mundo tive a oportunidade de levar turistas ao já citado Museu do Futebol e ao maior estádio privado do Brasil, o Morumbi, o estádio do amado Tricolor.

E nas minhas andanças pelo mundo, as vezes a trabalho, outras a lazer, pude conhecer outros estádios em visitas monitoradas como o Camp Nou, em Barcelona, o Karaiskákis, em Pireus (Grécia), o Green Point, na Cidade do Cabo (África do Sul) e o Centenário, em Montevidéo. E fui a jogos nos estádios, Garcilaso, em Cusco, no Atanasio Girardot, em Medelin, no Alejandro Serrano Aguilar, em Cuenca e no famoso La Bombonera, em Buenos Aires, cujo museu também é ótimo.


Devido a minha relação com Santos e a maravilhosa história do clube que é conhecido mundialmente pelas conquistas da Era Pelé, busquei uma aproximação e viabilizei entre outras experiências, através da minha agência de viagens, a ida de torcedores a partir de São Paulo para assistir aos jogos do Peixe pela Copa Libertadores da América. “Descíamos a serra”, promovendo conversas, brincadeiras e sorteios durante o trajeto. Voltei a torcer pelo Santos naqueles momentos!

Aproveitando essa identificação com o futebol criei o programa Futebol Total, em São Paulo, o Santos do Futebol e o Rota Pelé, o Rei do Futebol.

E contratado como guia de turismo levei pessoas para jogos de futebol. Já fui ver o Palmeiras, o Corinthians, já fui com estudantes americanos no grande clássico Fla x Flu, em um belo domingo no Maracanã e em uma final de Campeonato Paulista do próprio Santos.

Independentemente do time que torcemos, como guias de turismo, temos que ser como os jogadores de futebol: vestir a camisa com determinação e “entrar em campo” para proporcionar um bom espetáculo.

Enfim, acho importante que o guia de turismo se identifique e conheça bem o conteúdo daquilo que transmite aos seus clientes. Mesmo quando um turista estrangeiro não acompanha o futebol, eu o convido para conhecer um pouco mais sobre o esporte que é tão presente na nossa cultura.

Afinal, é fascinante a história que mostra o futebol como um esporte inicialmente praticado pela elite branca e que passou a ser um esporte das massas, onde um negro chamado Pelé se tornou a maior expressão deste encanto.