sexta-feira, 1 de maio de 2020

Uma reflexão sobre o meu trabalho como Guia de Turismo receptivo.





Criei este blog com o objetivo inicial de divulgar meus relatos de viagens como profissional de turismo.

Ampliei a abordagem relatando viagens a lazer como  a Cuba, Colômbia e África do Sul.

E então decidi aproveitar o espaço para fazer reflexões sobre o Turismo como um todo.

Nesta postagem faço uma reflexão sobre a minha atuação mais recente, desde 2014, atuando com o turismo receptivo, que é uma área tão importante para o nosso país, mas que é tão desconhecida e ainda tão pouco valorizada.


Uma reflexão sobre o meu trabalho como Guia de Turismo receptivo.


Sou Bacharel em Turismo e atuo como guia de turismo receptivo na capital, São Paulo, e em outros destinos como Santos, Guarujá, Embu das Artes e Campos do Jordão.

Iniciei meus serviços como guia de turismo em Santos em 2005, dois anos depois de voltar da Austrália onde fiquei por aproximadamente por um ano para aprender Inglês. Neste intervalo fui promotor de vendas de passeios em Santos no Terminal Turístico de Passageiros, o Concais. Abordava estrangeiros mostrando mapas para entenderem a localização dos atrativos da cidade e vendia city tours. 

Durante este período fiz um curso técnico para obter a credencial de guia de turismo pela Embratur (hoje Ministério do Turismo).

Passei a atuar em  outras áreas do turismo como hotelaria, seguros de viagem, cruzeiros marítimos (quatro contratos), intercâmbios e eventos.

Em 2014, quase dez anos depois, aproveitei a grande oportunidade de atuar em São Paulo como guia de turismo para a Copa do Mundo de Futebol. A experiência foi excelente e me motivou para me desenvolver nessa função, permanecer como autônomo e abrir a Parceiros do Turismo, uma agência focada em turismo receptivo. 

Estamos em 2020 e mesmo passando por esse momento histórico de pandemia, onde a atividade turística está estagnada, tenho a certeza que o nosso trabalho não vai se encerrar. Algumas mudanças ocorrerão, mas acredito que o turismo será ainda mais valorizado. Acredito que turismo de massa tende a esfriar, enquanto o turismo mais personalizado tende a crescer.  

Dispostos a pagar o valor deste tipo de serviço meus clientes são em grande maioria estrangeiros, pois atendo nos idiomas inglês e espanhol. Com eles realizo principalmente city tours, contratado por diversas agências de viagens. Mas também atendo pela minha própria agência, mencionada anteriormente.

Em um city tour convencional geralmente contratado por turistas que estarão no destino turístico pela primeira vez há alguns atrativos turísticos que praticamente são impossíveis de serem excluídos. Imagine fazer um tour por Paris e não ver a Torre Eiffel? Ir ao Rio de Janeiro e não ver a estátua do Cristo Redentor? Em Santos Monte Serrat e Museu do Café são locais imperdíveis.

Em São Paulo nunca deixo de pelo menos passar pelo centro histórico, marco de fundação da cidade, mesmo com os problemas sociais que saltam aos olhos. É impactante ver tantas pessoas morando na rua. Alguns guias tentam esconder essas mazelas sociais. Mas eu acho importante que o turismo seja realizado sem filtros. Que seja uma ferramenta que pode transmitir a realidade do local. E com ela fazer com que turistas reflitam sobre a nossa sociedade. 

Também em São Paulo descobri um tipo de serviço interessante chamado driver-guide ou motor-guide (o guia de turismo que dirige o próprio carro). Inicialmente trabalhei com um carro sedan, mas parti para uma minivan para ter maior capacidade de atendimento. Nesses passeios privativos, gosto de definir o roteiro e os locais de visitação junto com os clientes e de acordo com as suas preferências. A primeira coisa que faço ao me apresentar é saber se é a primeira vez na cidade. E quando a resposta é positiva pergunto se já fizeram alguma pesquisa e se querem conhecer algum lugar em específico.

Mas na maioria da vezes é a primeira vez, E eles dizem: 

- Você é quem manda. Nós confiamos em você! 

Mas ainda assim acho importante interpretar as expectativas, os desejos, ou até mesmo as limitações ou restrições dos turistas, antes do início do serviço. Assim, a satisfação pode ser alcançada com mais êxito.

Uns estão focados em tirar belas fotos, outros na interação com as pessoas. Alguns têm limites físicos, outros adoram caminhar.  Há aqueles que querem conhecer mais a fundo na história, outros preferem ouvir curiosidades ou até mesmo lendas urbanas. Há aqueles que querem provar a comida local, enquanto que outros buscam restaurantes onde possam encontrar a sua própria tradição culinária.

Quando possível, acho importante que o guia não se prenda a um roteiro. Ao deixar com o que o passeio flua, o inesperado pode acontecer com maior facilidade. E muitas vezes isso é o mais interessante. A experiência mais autêntica.

À medida que fui entendendo o mercado de turismo receptivo em São Paulo e conhecendo outros profissionais achei importante seguir uma tendência: a especialização de acordo com os diferentes públicos ou temas. Arquitetura, grafite, túmulos, arte, favelas, comunidades indígenas, imigrantes. São Paulo tem tantos assuntos e temas a serem abordados.

Por isso, decidi aproveitar meus gostos pessoais. Criei programas turísticos relacionados ao futebol, a degustação de cervejas artesanais e a história do café no Brasil. 

Apesar de atuar predominantemente em São Paulo entendo que Santos é um destino pouco desenvolvido profissionalmente, mas com um potencial gigantesco. 

Voltando a minha atuação como guia tento me colocar no lugar do turista. Quando estou em viagem busco em primeiro lugar a diversão. Também quero sentir-me a vontade, seguro e utilizando bem o meu tempo. E não tenho dúvidas que ao contratar um guia de turismo que transmita informações interessantes, que me enriqueçam culturalmente, a minha experiência turística será potencializada.

Então, como guia de turismo tento ser este elo potencializador da boa experiência turística.

Aprendo muito com os turistas pois transmito informações sem deixar de perguntar sobre suas vidas e pedir que emitam opiniões sobre vários assuntos.

Tenho fé de que o turismo nunca deixará de existir pois renova o ser humano ao colocá-lo em contato com outras culturas. Com outras formas de ver e viver a vida. Isso nos faz entender a importância do respeito as pessoas e as diversidades culturais.

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