Como turismólogo de formação tenho refletido sobre esse momento
histórico de pandemia, onde a atividade turística está estagnada. E o objetivo
desta publicação é fazer uma breve reflexão sobre as possíveis mudanças que
ocorrerão no mercado de turismo receptivo em São Paulo e os caminhos que o
mercado pode seguir para buscar uma recuperação.
Uma conclusão óbvia é que o fluxo doméstico retornará primeiramente, já
que o fluxo internacional dependerá das aberturas das fronteiras
internacionais, das condições sanitárias do nosso país, do nosso Estado e da
nossa cidade; e a consequente motivação que os estrangeiros terão para visitar
o Brasil.
Neste contexto a preocupação com saúde pessoal certamente será a
prioridade do viajante. E consequentemente os serviços privativos tendem a ser
mais procurados, pois não geram aglomerações como o turismo realizado em grupo.
É importante lembrar que os gestores do município também poderão impor
controles e regras para receber turistas, tanto de turistas que viajam por
conta própria, ou que contratam serviços privativos ou compartilhados, junto a
agências de viagens.
Esse controle sanitário pode incentivar a exigência da contratação de
agências legalizadas e não os “piratas do turismo”, que executam serviços de
forma ilegal, insegura e de baixa qualidade. Assim, a crise pode ser uma
oportunidade para sanarmos este grande problema que é a ilegalidade, e que de
certa forma dificulta o crescimento e o desenvolvimento das empresas de turismo
que pagam impostos e que buscam pelo menos o mínimo de qualidade de serviços,
colocando a disposição, por exemplo, transportes de qualidade, e guias de
turismo credenciados.
Uma interessante novidade é a criação do programa Turista Protegido,
pelo Ministério do Turismo. O mesmo divulga que o “selo vai reconhecer
estabelecimentos do setor que seguem boas práticas de biossegurança contra o
novo Coronavírus. O programa busca chancelar as atividades turísticas que
assegurarem o cumprimento de, por exemplo, requisitos de higiene e limpeza para
prevenção da Covid-19.” (Site Ministério do Turismo)
Assim, o registro junto ao Cadastur pode ser mais valorizado por todos,
o que será um avanço, se o Ministério do Turismo tiver uma considerável
melhoria na fiscalização, quase nula até então.
O fluxo doméstico pode sofrer algumas outras alterações. Os turistas com
maior poder aquisitivo ao estarem impossibilitados de viajar ao exterior farão
suas viagens internamente e os destinos que estiverem melhor posicionados
poderão se beneficiar disso. Um bom posicionamento turístico pode ser traduzido
em boa infraestrutura turística, e de apoio ao turismo, da oferta de produtos
turísticos e da qualidade dos serviços, onde a capacitação profissional é
essencial.
O tempo de estada do turista doméstico que virá para São Paulo tende a
aumentar, tendo em vista que receberemos pessoas provenientes de origens mais
distantes.
E o que São Paulo tem a oferecer?
São Paulo apresentava números crescentes no fluxo de turistas, antes da
pandemia. E uma fonte importante de informações está em: http://www.observatoriodoturismo.com.br/
A cidade vem sendo descoberta como um destino muito interessante para os
próprios brasileiros. As pessoas estão cada vez mais interessadas na parte
cultural que a cidade oferece, através dos seus museus, dos seus eventos, da
gastronomia, e da sua vida noturna. É claro que a área cultural também sofre as
consequências da pandemia.
No entanto, São Paulo, forte em turismo de negócios que também sofrerá
bastante com a crise, tem muitas outras vertentes do Turismo ainda pouco
aproveitadas. Entre elas o turismo ecológico e o turismo de base comunitária,
onde a comunidade controla a sua execução. Mas, mais uma vez o turismo deve ser
realizado de forma cuidadosa para não trazer problemas para os residentes
destes locais.
Dentre vários roteiros temáticos que podem ser ainda mais incrementados
e comercializados, temos passeios com guias de turismo especializados em arquitetura,
arte grafite, religião, visita a comunidades urbanas ou rurais, imigração, em comunidades
com perfis étnicos (indígena, quilombola) e até mesmo visita a túmulos. A
imaginação não tem limites!
Enfim, acredito que apesar das incertezas e dificuldades daquilo que
estamos chamando de “o novo normal”, com menor fluxo de turistas a curto e
médio prazo e com os novos hábitos que estão sendo adotados, cabe ao mercado de
turismo se adaptar, mas acima de tudo aproveitar a oportunidade para ajudar a criar
esse novo cenário.
Profissionalismo, legalidade e segurança devem ser as palavras de ordem
para que a atividade não somente retome sua sustentabilidade econômica, mas que
também resulte em maior desenvolvimento social e ambiental.
Tenho certeza que as pessoas estão loucas para viajar e acredito que
valorizarão mais o turismo.
Este é o momento de trabalharmos em parceria para potencializarmos os
benefícios de um Turismo inteligente.
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